Sara Rahbar: duas culturas e uma única voz

Sara Rahbar nasceu em Teerã, em 1976, mas ao 5 anos de idade emigrou com sua família para os EUA, por causa da Revolução Islâmica e da guerra Irã-Iraque. Sua família foi dividida entre o seu país de origem e seu país adotivo. Seu pai, que ia e voltava continuamente durante esses anos, finalmente retornou ao Irã. Sara também  viajou frequentemente para lá em sua juventude, a fim de fazer fotografias documentais. Por muitos anos ela dividiu seu tempo entre os dois países e as duas culturas. Atualmente ela vive e trabalha entre Nova York e Irã. 
Seu trabalho que vai desde a fotografia à escultura, e também instalação sempre decorre de suas experiências pessoais. O primeiro trabalho da artista que ganhou o reconhecimento internacional  foi a série de Bandeiras (2005-2011) que explora as idéias de pertencimento nacional, assim como o papel conflitante das bandeiras como símbolos de violência ideológica e nacionalista.
A própria artista define esses trabalhos como pinturas nas quais ela se apropria de bandeiras reais, costurandouma grande variedade de materiais como tecidos bordados, pedaços de tapete, franjas ornamentais, fragmentos de escrita que lembram a estética da arte iraniana, combinados com com outros ícones americanos. Cada bandeira é “vestida” de forma diferente, e seus ornamentos e enfeites nos levam a considerar cada composição como uma espécie de retrato.

Dois exemplares da série Bandeiras (2005-2011)
Retrato é um dos outros temas que a artista foca. Entre suas obras estão numerosas  fotografias de mulheres e auto-retratos, adornados com tecidos orientais  ou  usando bandeiras dos EUA como véu. Nestas imagens, a artista mais uma vez justapõe os emblemas dos EUA e do Irã, em particular as bandeiras dos dois países.
 Antes de estudar arte na St. Martins College, em Londres, no início dos anos 2000, Rahbar estudou design de moda em Nova York. A influência deste interesse ainda está presente em sua estética, sejam nos retratos ou em suas bandeiras. As bandeiras de Rahbar  carregam uma carga simbólica associada com as composições decorativas do Oriente e como o Ocidente sempre buscou pelos seus  preciosos tecidos como mercadoria de luxo. Como artista, Sara Rahbar é uma herdeira de heranças múltiplas, tanto americanas quanto iranianas. Através de seu trabalho, ela optou por falar com uma só voz acerca dessa multiplicidade:
“Houve um tempo em que eu me questionava constantemente sobre minha cultura, religião e  identidade. Eu finalmente cheguei à conclusão de que a única coisa que eu quero fazer é lançar fora esses títulos que criam tanta separação entre nós. Somos todos seres humanos … Eu não acredito nas fronteiras e separação criados pela devoção a uma bandeira, a um município, ou a uma religião. Minha intenção e meu motor é focar nossas semelhanças, e não nossas diferenças. “

Fotografia da série After You, 2007
Fotografia da série Love Arrived & How Red , 2009
Outro aspecto importante da prática artística de Rahbar é a  fotografia. Desde 2005, ela tem feito um trabalho documental durante suas viagens para o Irã. Seus temas são por vezes políticos, sociais e culturais. No entanto, as fotografias que ela expões são muito distantes da estética do fotojornalismo. 
Através da série de fotografias intitulada Love Arrived & How Red (2009), Rahbar conta a história de um casamento entre uma  jovem mulher, a quem ela mesma  interpreta e um soldado iraniano. A artista inicialmente usa um vestido tradicional, seguido de um vestido de casamento ocidental com uma bandeira dos EUA  no lugar do véu, enquanto o soldado veste seu uniforme militar. Ambos estão com os rostos ocultos por balaclavas pretas. Nesta série, em cada imagem, ela invoca referências simbólicas, por exemplo, a romã que é um símbolo de fertilidade na cultura persa.

O trabalho de  Rahbar tem percorrido várias cidades do mundo, incluindo Cairo, Mumbai, Dubai, Madrid, Viena, Moscou, Nova York, Londres e Paris, e integra várias coleções em todo o mundo, incluindo o Centro Georges Pompidou , em Paris, a Galeria Saatchi , em Londres, o Burger Collection em Hong Kong, o Devi Art Foundation em Gurgaon, Índia e o Museu Nacional de Belas Artes de Taiwan.

Site da Artista: Sara Rahbar

Baseado em Wikipedia e Persian Mirror

Este post tem 0 comentários

  1. Cristina Pavani

    Ótimo fim de tarde, Jana!
    Que calor! Se eu tivesse aquele picolé de romã…
    Acabo de ler o texto do Samy. Fiquei bastante reflexiva.
    Espero não haver retrocesso para as crianças e mulheres iranianas.

  2. Janaina Elias

    Olá Cri!
    Aquele picolé de romã durante estas tardes escaldantes iria bem né?

    É uma pena que a situação econômica atual do Irã esteja dificultando tanto a vida do povo. Muitos dos meus amigos de lá têm uma ótima formação mas precisam trabalhar em dois empregos para sobreviver. Minha amiga está querendo ficar aqui no Brasil em parte por causa dessa situação e por causa da parte política também. Tomara que as eleições presidenciais vindouras tragam pelo menos alguma mudança positiva por lá…

    Beijos da Pérsia

  3. Anônimo

    Salam, Jana Jan!

    achei belíssimo o trabalho com as bandeiras. muito criativo mesmo. Penso que os artistas ainda podem "salvar" a existência na Terra, no sentido de unir pessoas, compartilhar a vida…
    Você conhece Farid ud-Din Attar? Escrevi um pouquinho sobre ele lá no blog.
    Ótimo dia,
    Bauce 🙂

  4. Janaina Elias

    Salam Denise jan!
    Obrigada pelas lindas palavras!
    A meu ver todo artista reflete em seu trabalho aquilo que é e compartilha com o mundo a sua experiência pessoal. Por isso a arte é universal, pois reflete através da criação de objetos expressivos dotados de beleza estética ou não sobre questões que são importantes para todo ser humano.
    Eu conheço pouco sobre Attar, sei que ele foi um grande sábio sufi o túmulo dele está na cidade de Nishapur em um lindo jardim e ele que escreveu o livro "Conferência dos Pássaros".

    Um grande bause!

  5. paquistanesa ocidental

    Adoro essas artistas "críticas" cujo tema central gira em torno de assuntos politicos, sociais e culturais. Gostei muito da fotografia da série "Love Arrived & How Red" (2009).

    Como você diz: Um "bause" para você Jana!

    😉

  6. Janaina Elias

    Somos duas, sou uma fã dessas mulheres artistas que conseguem abordar temas tão complexos com delicadeza e autenticidade. Essas fotografias performáticas sem a exposição vulgar e banalizada a que estamos acostumados merecem e muito um lugar de destaque na arte contemporânea.

    Um grande bause para você também, linda paquistanesa!!

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