Essa tal amizade iraniana, o que é?

“O verbo “amar” em persa tem o mesmo significado que “ser amigo”. “Eu te amo” traduzido literalmente é “te considero um amigo” e “eu não gosto de você” simplesmente quer dizer “não te considero um amigo”.” (Shusha Guppy)

Salam, pessoal! Hoje vou dedicar este post para abrir o coração e falar um pouquinho de mim. Porém, eu confesso que sou bastante tímida para expor meu cotidiano na rede, embora não tenha motivos reais para esconder nada… Mas finalmente, após quase 6 meses deste humilde blog Chá-de-Lima da Pérsia, eu mesma parei pra me perguntar: quais foram as aspirações e inspirações que me motivaram a escrever sobre um país tão pouco conhecido e com tão poucas referências para nós brasileiros, latino-americanos e ocidentais? 
Já escrevi um pouco sobre isso na página sobre o blog, mas imagino que você que está lendo este blog agora, talvez esteja se perguntando ou em algum momento vai se perguntar: será que tem algum outro blog em português falando sobre o Irã por aí? Claro que tem! Não falta gente pra falar MAL do Irã!! Falar mal  do presidente Ahmadinejad, dos mulás e aiatolás de barba e turbante, das mulheres oprimidas pelo chador, dos enforcamentos e apedrejamentos e finalmente do famosérrimo Programa Nuclear Iraniano. Mas e o que este blog tem de tão diferente assim? Ele é simplesmente o PRIMEIRO E ÚNICO blog em língua portuguesa a falar exclusivamente sobre a cultura do Irã, sob o ponto de vista de uma brasileira! Por isso ele tem esse formato mais informativo e didático que eu particularmente gosto bastante. Claro que não mereço nenhum crédito por isso, mas espero que a ideia de alguma forma pegue e a cultura iraniana receba o destaque que merece.
Confesso que este blog nasceu de uma curiosidade pessoal de pesquisar mais sobre um país e uma cultura que despertam tantos sentimentos ambíguos. Para  uma apaixonada por artes como eu, o nome do Irã, sempre soou muito mais como uma grande escola de Cinema e objetos de arte de beleza estonteante como tapetes, pinturas em miniatura ilustrando séculos de poesias escritas na mais sofisticada caligrafia e ornamentação, sem falar de uma majestosa arquitetura e paisagens naturais que deixam sem fôlego até mesmo o menos animado por cultura e blá, blá,blá de artistas e intelectuais…
Estranho ouvir alguém festejar tanto assim um país onde a mídia e a arte são controladas pela censura, as mulheres andam todas cobertas e onde meninos e meninas não podem sequer andar de mãos dada em público? Ah, difícil proeza de tentar entender um povo tão “estranho e distante de nós”!
Acredito que muitos pensarão  também que este blog, é um dos muitos no estilo habibis virtuais da Índia Paquistão e adjacências. Por isso, também quero logo avisar: não espere se deparar com uma postagem sobre “habibis iranianos” por aqui, porque NÃO TEM HABIBI IRANIANO nenhum a vista, pelo menos até agora… (nunca se sabe né, rsrs) 
Antes deste blog nascer veio a tal da amizade iraniana. O que isso quer dizer na verdade? Tudo começou quando eu resolvi aprender árabe e persa! Sim, fui atrás de comunidades de aprendizado de idiomas pra bater um papo com esse pessoal do Oriente Médio, incluindo do Irã e tentar entender a cabeça deles, além dos filmes de Kiarostami, Majidi, Panahi e Makhmalbaf. Sou uma apaixonada pelas culturas de todos os países do Oriente Médio também, mas por que resolvi criar um blog só para o Irã? Talvez pela urgência que se faz maior do que nunca, com tantas aparições demonizantes do Irã na mídia e em meio a todas elas o inusitado despontar de um Oscar para um filme iraniano!
Além de tudo isso, conversar com um iraniano em inglês é a coisa mais fácil, pois eles tem uma incrível tendencia natural para gostar de ensinar seu idioma e pelo menos tentar aprender qualquer outro. Assim tive meu primeiro contato com um rapaz de Teerã, outro de Qom, depois uma moça de Isfahan e com o tempo um senhor de meia idade de Mashhad, e outros iranianos que moram em outros países e por aí “o Irã veio até mim”…
A expressão que define melhor o povo iraniano por estes contatos que tive com amigos virtuais é: CALOR HUMANO. Do mais jovem ao mais maduro, há uma atitude sempre disposta a identificar e conhecer o estrangeiro como amigo. Embora por parte de alguns rapazes, exista uma curiosidade por ver como são as garotas ocidentais, eles não são como aqueles irritantes indianos (esses são alguns deles, não todos tá) que querem que você ligue a webcam só pra ele ver “a roupa que você está usando”, ou como aqueles turcos sem assunto que te adicionam só pra ver se você é bonita e te bloqueiam no dia seguinte… Também não estou dizendo que não existem iranianos cafajestes. Já vi sim iraniano que pede o número de telefone, até chega a  ligar, manda mensagem, fala que te ama só por pura diversão e depois some (hunf!)
Mas esses são bem mais raros, confesso que minhas melhores amizades virtuais com iranianos já tem mais de 3 anos! E alguns nunca pediram para me ver na webcam, percebi que eles gostam mesmo é de chat por voz e como adoram falar! Falam muito mesmo, e é difícil faltar assunto, pois eles também querem saber tudo  que acontece por aqui nos mínimos detalhes, desde quanto ganhamos por mês, até quanto gastamos com roupas, comida, gasolina… Tem tantas coisas que eu mesma não sabia sobre meu próprio país, mas fui incentivada a pesquisar para matar a curiosidade deles…
Sim, muito mais deles, do que DELAS! Converso muito menos com mulheres iranianas, acredito que são mais conservadoras e recatadas e dificilmente colocam fotos delas mesmas nos perfis online. Mas dá para perceber que são ávidas por livros e filmes, não ficam falando só de moda ou de garotos o tempo todo. Quando converso com moças iranianas, sempre faço questão de provocá-las de maneira saudável a dizer o que pensam de nós, o que sabem sobre as brasileiras. A grande maioria delas nem sequer imagina ou suspeita como somos! Algumas até confessam que acham os rapazes iranianos “os mais bonitos de todo o mundo” (talvez porque para se casarem com estrangeiros seja bem mais complicado mesmo…). Embora eu seja do ponto de vista que há beldades e feiurinhas em todas as raças, tenho que concordar com elas que os iranianos são realmente um povo belíssimo tanto por fora quanto por dentro.
Bom, espero que tenham gostado deste momento de compartilhamento de impressões pessoais, e convido todos a concordarem ou discordarem de mim o quanto quiserem, claro mantendo sempre o respeito pela opinião do outro.

Um abraço caloroso a todos que saboreiam as postagens do nosso Chá-de-Lima da Pérsia!

Este post tem 0 comentários

  1. Conexão Oriente

    Salam Janaina !!!

    Mashalah

    Lindo post … abriste teu coração habiba … tu escreves muito bem acho que já disse isto … mas não custa repetir.
    Dilvulgar a cultura de países como os nossos é um trabalho de forminguinha … pois as pessoas tem uma visão tão distante da realidade que as pessoas do Irã e das Terras de Sham vivem … mas as vezes fico chateada quando falo que meu namorado é sírio e as pessoas vem e dizem nossa elas tratam as mulheres iguais objetos dai eu retruco e maioria do brasileiros trata as mulheres como objetos … e meu namorado sírio me trata com uma princesa … seu trabalho é lindo em divulgar um país tão fascinante e polêmico.
    Por falar em chatos da internet … os turcos estão insuportaveis com essas manias de ver cam pra saber se somos bonitas ou não …. estão piores que os sauditas ….

    PS: quem criou o template do seu blog ?
    Bauce

  2. Janaina Elias

    Salam Andréia jan! (é assim como os persas falam para pessoa querida)

    Este trabalho é realmente feito com todo o meu coração, com um pouquinho de tempo dedicado por dia, mas com muita alegria por fazê-lo. Mesmo tentando fazer um blog com uma proposta mais didática, acho que vale a pena compartilhar um pouco do que somos para quem lê os nossos posts para saberem que somos pessoas simples e honestas e não "malucas visionárias" rsrsrs
    Realmente é uma pena que tão poucas pessoas estão dispostas a se abrir para uma visão mais abrangente do Irã e das Terras de Sham, limitando-se as opiniões viciadas da mídia em geral. Não ligue para as pessoas que te criticam por causa do seu habib sírio, elas estão é com inveja de você! Francamente, que moral tem pra falar isso em um país que coloca as mulheres ao lado de latas de cervejas!

    Ah! O template do blog é um modelo do blogger mesmo, após fuçar bastante mesmo, só escolhi as cores e as formatações… o banner do "chá-de-lima" modestamente fui eu que criei.

    Boos

  3. Denise Bomfim

    Salam, alma iraniana! Sim, tens a alma de lá….
    Isfahan te espera, Insh´Allah!!!
    O Sr. Ahmadinejad está aqui no Rio e palestrou na conferênica Rio+20; que aliás há fotos de eventos paralelos em meu blog, se você tiver tempo livre, deixe seu comentário lá a respeito das fotos. Lá estão religiosos em prol do meio-ambiente. Foi muito interessante tudo o que vi.

    Ótimo final de semana!!

  4. Janaina Elias

    Salam Denise, agradeço seu carinho e adorei o "alma iraniana" jájá vou fazer uma camiseta com isso escrito rsrsr! Inshallah, Isfahan "nafsejahan" que me aguarde pois vou levar todo meu coração pra esse lugar 🙂
    Não estou acompanhando tanto o que ocorre na Rio+20, mas tenho ouvido falar dos protestos que alguns grupos tem feito contra a presença de Ahmadinejad aqui no Brasil. Mas polêmicas a parte, espero que realmente haja esforços honestos a favor do nosso planeta e não apenas discursos vazios dos líderes das potências mundiais que acabam não saindo do papel.
    Grande beijo!

  5. Anônimo

    Janaina, parabéns pelo seu texto. Você escreve mesmo muito bem e traz temas que a mídia tradicional insiste em omitir. Estive no Irã e as impressões que trouxe foram as melhores sobre o povo de lá, tão educado, gentil e sofrido. Abraços, José Henrique

  6. wanilson jr

    Janaina estou vindo no seu blog pela primeira vez, gostei muito de seu blog. Janaina vc têm desecendencia árabe.

  7. Janaina Elias

    Olá Wanilson, seja muito bem vindo sempre! Fico muito feliz com sua visita! Na verdade meu parentesco com árabes é bem distante… sei que o meu sobrenome Elias é de origem árabe cristã.

    Abraços

  8. wanilson jr

    Eu também tenho origem árabe mas o nosso sobrenome é Gabriel.

  9. leinha

    Olha… Eu amei o a sunto, tudo que li acima é verdade. conheci virtual um iraniano. não posso expor aqui! mas sera que alguma brasileira já casou- se com iraniano? rsrsr Acho uma possibilidade impossível para nós dois, um milagre somente.Ele e uma pessoa maravilhosa é sincera que … vou colocar assim: que eu senti. Não posso dizer tudo, mas queria! Meu coração anda tão apertado…Linda matéria, parabéns! Um beijão.

  10. Janaina Elias

    Olá Leinha, seja muito bem vinda! Fico muito feliz em receber o seu comentário. Conheci apenas uma brasileira casada com um iraniano que mora no RS, eles são casados há 10 anos! E um casal de amigos que ela é iraniana e ele brasileiro! Não acho impossível, acho difícil como seria com qualquer outro estrangeiro, ou brasileiro de longe mesmo… mas fique a vontade para dizer o que quiser sempre!
    obrigada de coração!
    Um grande beijo!

  11. Janaina Elias

    Salam José Henrique, que alegria ver seu comentário por aqui! Fico muito feliz em saber que estou conseguindo passar a mensagem que me propus desde o início deste blog. Uma abordagem com base em minha experiência a distância sobre o Irã, que foi confirmada pela sua aproximação durante a viagem! Que mais pessoas tenham a ousadia que você teve de ir conhecer este país sem preconceitos e de coração aberto.
    Grande abraço!!!

  12. Anônimo

    Eu tive um rápido e emocionante romance com uma iraniana de deixar qualquer guria ocidental com inveja de tamanha beleza que ela tinha. Nos conhecemos no aeroporto de Frankfurt/Alemanha em 2005, e nos reencontramos em Paris/França na mesma semana, ela ia visitar parentes e eu a estudos. Não pudemos continuar a amizade pois sua origem era curda e muito recatada, e eu luterano bem conversador… resumindo, ficamos juntos por duas semanas e nos apaixonamos, ela disse que no Irã eu seria preso e ela banida da família, mas por sentir uma grande atração por mim e está em lugar "neutro", quis arriscar… não tive chance de ir ao Irã visitá-la até por receio, já que seus familiares ficaram sabendo mas que guardasse segredo lá. Eu a convidei para vir aqui conhecer e quem sabe morar… de vez outra nos falamos, e eu queria até casar com ela apesar de nossas diferenças culturais, o amor de homem e mulher supera tudo.

  13. Janaina Elias

    Olá querido amigo, obrigada por partilhar sua linda história.
    Realmente é muito complexa essa relação intercultural. Não creio que vc seria preso, mas certamente para se casar com ela teria que se converter ao Islã, ao menos para conseguir oficializar a união de acordo com a lei iraniana. Quanto a ela ser curda, por serem um povo autônomo, desconheço como lidam com essas leis… curdos são majoritariamente sunitas, enquanto o restante do Irã é de maioria xiita. Mas quem sabe o que o futuro nos reserva, com certeza se o amor for verdadeiro vão encontrar a melhor solução para os dois…
    Um grande abraço!

  14. Fereydoun

    Muito interessante, Janaina! Eu também agradeço muito por você repartir tudo isso. Suas experiências "internetais" com o povo de lá são diferentes das minhas e justamente por esse motivo me instigaram. Fiquei décadas alimentando uma curiosidade imensa, durante as décadas de oitenta e noventa inteiras. Mas nunca pude nem visitar o país, nem me corresponder e nem encontrar alguém de lá que morasse aqui. Então, veio a maravilhosa Era da Internet e eu pude fazer minhas primeiras explorações virtuais apenas em 2000, já aos 28 anos de idade.

    Como eu jamais fantasiei ou almejei casar com uma iraniana (não sei por que!), eu apenas procurava amizades mesmo. Queria achar pessoas dispostas a falar sobre o próprio país com profundidade. O mais bizarro é que smpre fui fascinado por todos os aspectos da cultura deles, mas nunca estudei a língua persa… Sei lá porque! Acho que eu devia estar tão ocupado com outros focos que jamais havia chegado neste que é um dos tópicos mais importantes: a belíssima e antiga língua. Mesmo hoje, após ter lido tanto, ouvido tantas músicas tradicionais, me fartado do artesanato, visto tantos filmes demais manifestações artísticas eu sinto que há milhares de coisas por descobrir.

    Devo o começo de tudo isso (infelizmente) a duas dolorosas guerras. Se tais conflitos nunca não tivessem ocorrido lá, provavelmente hoje eu nem saberia a diferença entre um tapete Tabriz e um Kerman… E seria uma pessoa bem mais pobre também. Pobre de felicidade e de imagens mentais. Sempre repito a todos os meus amigos: "Conhecimento fabrica felicidade, caras. Descubram as maravilhas que estão escondidas por todos os cantos do mundo e se apaixonem. Garanto que suas cabeças nunca mais voltarão a ter o tamanho de antes e garanto que serão muito mais felizes. Conhecimento fabrica felicidade… Direta e indiretamente…

    Agora… Se, de repente, nesse processo, ainda esbarro numa dessas iranianas gatíssimas e acabo encontrando uma esposa… Não será nada mal…

  15. Janaina Elias

    É verdade Fereydoun cada pessoa tem uma experiência diferente com outras culturas, mas acho legal dividir o que percebemos para não acabarmos gerando estereótipos. Minhas percepções de quando escrevi esse post já não são totalmente as mesmas, pois já se passou quase um ano e muitas experiencias diferentes foram acrescentadas. Assim como você acredito que sou uma pessoa muito mais rica em conhecimento do próximo e de suas culturas. Por conhecer as diferentes facetas me apaixono e mergulho cada vez mais nessas outras realidades. Ainda vou escrever mais posts sobre esse assunto, para continuar dividindo meus novos aprendizados.
    E cá entre nós, se você conhecer uma iraniana gatíssima que venha querer ser sua esposa, esteja preparado para encarar um desafio burocrático rsrs… Mas tudo é possível!

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