FILME DO MÊS:
Um documentário ficcional extraordinário no cenário árido e desolado do Afeganistão, onde muitas vidas são ocultas pelo véu da opressão.
A Caminho de Kandahar narra a peregrinação de Nafas (Niloufar Pazira), uma jornalista afegã radicada no Canadá que empreende uma viagem desesperada até a cidade do título (quartel-general da milícia Talibã, aliás). O motivo de sua jornada é impedir o suicídio da irmã, que já não tem vontade de viver sob a opressão da burca. Coberta também ela da cabeça aos pés, Nafas é conduzida através do deserto por quem se disponha a ajudá-la – uma família de refugiados que é roubada por milicianos, um garoto expulso da escola corânica, um negro americano que faz as vezes de médico num vilarejo e um homem mutilado por uma mina. Em pouco mais de uma hora, o diretor consegue algo que, desde os atentados de 11 de setembro, se transformou em artigo valioso: um retrato da vida como ela realmente é hoje no Afeganistão do Talibã.
A Caminho de Kandahar tem valores que ultrapassam o caráter meramente documental. O cenário de miséria que ele revela é tanto mais rascante porque Makhmalbaf, um expoente do cinema de seu país, consegue infundi-lo com uma espécie de poesia da desesperança – como na cena, bela e horrível, em que a câmara registra os rostos de um grupo de mutilados que correm com suas muletas e próteses toscas em direção a um helicóptero da Cruz Vermelha. Fiel à tradição iraniana, o diretor – que é conhecido aqui por Gabbeh e Um Instante de Inocência – empregou quase que só amadores no elenco. São na maioria refugiados afegãos que vivem na fronteira com o Irã (onde o filme foi rodado) e conhecem na pele o drama que interpretam. A protagonista é mesmo uma jornalista que mora no Canadá. Há mais de um ano, Niloufar pediu a Makhmalbaf ajuda para entrar no Afeganistão e retirar de lá uma amiga. O diretor não pôde atendê-la na ocasião, mas mais tarde sugeriu que filmassem uma versão ficcionalizada dessa história. Makhmalbaf, contudo, diz que ela é incompleta. “Se eu mostrasse toda a tristeza que vi, ninguém acreditaria.”
Créditos: VEJA on-line
Filme: A Caminho de Kandahar
Irã, França| Drama | 85 min.| cor
Legendado em português
Direção: Mohsen Makhmalbaf
Título Original: Safar e Ghandehar
Título em inglês: Kandahar
Elenco: Niloufar Pazira, Hassan Tantai, Sadou Teymouri, Hoyatala Hakimi, Monica Hankievich, Noam Morgensztern, Zahra Shafahi, Safdar Shodjai, Mollazaher Teymouri
O link para este filme foi removido, desculpem o transtorno.
Agradeço quem tiver sugestões de links para assistir este filme online.
Jana, adorei o post sobre os nichos nas casas iranianas.
Quando morei na roça, em criança, vi algo parecido em diversas residências também: as prateleiras com toalhinhas em crochê, os oratórios…
Ali era depositado a imagem de Nossa Senhora, santos de devoção, retratos de familiares falecidos, velas, vasos com florzinhas silvestres, papelzinho com nome de bebê morto.
Numa das casas, tinha um porquinho (cofre) de plástico verde-limão, destoando totalmente da composição!
Agora, com licença, pois tenho um filme a assistir.
Olá Cris, também adoro comparar as culturas e ver que temos tantas coisas em comum me faz apreciar ainda mais ambas. Obrigada por relembrar essas tradições familiares que aqui na capital quase não vemos.
Se quiser pode voltar para me dizer o que achou do filme também!
Beijos e ótimo fim de semana!
Adorei o filme, Jana! Obrigada…
Aquela noiva-caramujo, carregando sua tenda branca pela aridez do deserto, num rudimentar transporte (jumentinho).
A audácia do personagem que veste burkha para sobreviver naquele mundo hostil.
A medicina arcaica, a infância que tanto me toca.
Gostei do final retiscente!
Ótima semana, e beijos para ti também.
Niloufar Pazira é uma das mulheres mais deslumbrantes que já vi na vida!
Sim, também acho que ela tem olhos muito marcantes e traços suaves. E ela realmente tem origem afegã, mas não atuou em muitos filmes conhecidos.
Tenho uma coleção grande de fotos de crianças e mulheres afegãs aqui (ainda vou mostrar) e eu fico assombrado com o fato de ter sido um lugar tão inóspito como aquele a dar origiem a povos tão formosos. Algumas das etnias de lá têm indivíduos que não são apenas "bonitinhas", mas exuberantes em todos os aspectos: etatura, cabelos, pele, olhos, tudo! Mas geralmente toda essa beleza está terrivelmente maltrada pelo clima, pelo pó, pela desnutrição, cicatrizes de todos os tipos, mutilações… É revoltante… Esse povo belíssimo (por dentro e por fora) precisa ser salvo da extinção.
Veja este álbum da fotógrafa Lynsey Addario, por exemplo: http://www.lynseyaddario.com/#/veiled-rebellion/VeiledRebellion008
Elas falam por si, mas ficam ainda mais devastadoras quando lemos as histórias de cada uma (clique em "caption", no rodapé de cada foto).
Realmente são lindos, depois vou olhar com calma a série de Lynsey Addario. Me recordei agora de uma Bienal de SP em que vi os retratos do Afeganistão de Arthur Omar que recentemente foi publicado em um livro. É verdade o que você disse: eles são exuberantes, mas o clima e a desnutrição oprime muito a rara beleza deste povo. Muito obrigada pela dica!
Olá Janaina, encontrei meio que por acaso filmes Iranianos. E te confesso que não canso de assistir a todos que consigo fazer downloads no You Tube.
É um povo sofrido, mas que nos dá muitas lições, principalmente a nossas familias e crianças. Pena que os filmes estão apenas parcial no you tube, e as vezes sem legenda ou tradução. Mas gostaria de encontrar algum site que possa fazer downloads, porque quero assistir na Televisão.
Olá, em breve vou disponibilizar uns links para downloads desses filmes que publico aqui. Concordo com suas palavras, são muitas lições que recebemos por meio da arte cinematográfica desse povo que sabe produzir com inteligência em meio a tantas restrições.
Obrigada pela sua participação!
Olá, encontrei o torrent pra baixar desse filme neste site! http://act14-anjovida.blogspot.com.br/2011/12/filmes-arabeoriente-medioislamismo.html