Cinema Iraniano: A Canção dos Pardais

ESTREANDO O FILME DO MÊS!!!

Uma aventura repleta de metáforas e lições de vida entre as paisagens contrastantes do campo e da cidade do Irã atual: 


Não me canso de falar o quanto é necessário assistir aos filmes de Majid Majidi para conhecer de outra maneira o cotidiano e a sensiblidade das relações humanas do povo iraniano. “A Canção dos Pardais” (Avaze gonjeshk-ha, 2008) foi o último longa-metragem lançado até agora pelo diretor Majidi. Apesar de resgatar algumas fórmulas de filmes anteriores (como BaranFilhos do Paraíso e A Cor do Paraíso), dos contrastes entre o campo e a cidade, diferentes etnias e classes socias, este filme revela uma temática complexa a partir da aparente simplicidade. A história gira em torno de Karim (Reza Naji), um pai de família de etnia azeri que vive uma vida tranquila e feliz com sua esposa Narges (Maryam Akbari), e três filhos em uma pequena casa no interior, mas uma série de infortúnios acaba modificando radicalmente sua rotina. Da mesma maneira que em “Filhos do Paraíso”, um par de sapatos perdido transforma o cotidiano de duas crianças em uma aventura para substituí-los por outros novos, em “A Canção dos Pardais”, acontecem duas perdas: da menina Haniyeh (Shabnam Akhlaghi) que perde seu aparelho auditivo em um poço e de seu pai Karim que perde um dos avestruzes da fazenda de seu patrão. O aparelho auditivo, se revela excessivamente caro para Karim que precisa procurar um novo emprego, depois que foi demitido da fazenda por ter deixado o avestruz escapar.
… e seu pai perde o avestruz do patrão
Em busca do novo emprego, Karim tenta a sorte na capital Teerã à bordo de sua velha motocicleta. Quando por acaso um homem engravatado sobe na garupa da moto e paga  pela carona. Assim de repente, Karim se descobre trabalhando como moto-táxi e transportador de mercadorias, mesmo sem saber direito como ir para os lugares no trânsito caótico da capital. Além disso, ele descobre que o povo da cidade joga fora coisas velhas que ele mesmo não tem dinheiro para comprar. Então ele  começa a pensar em ganhar dinheiro vendendo essas quinquilharias que o povo da cidade não quer mais, do qual se destaca uma porta azul. Enquanto isso, seu filho Hussein (Hamed Aghazi) sonha em ficar milionário com a criação de peixes no velho poço nas proximidades, o mesmo onde sua irmã tinha perdido o aparelho auditivo.

Karim estranha o caos da cidade grande…
A porta azul que Karim leva da cidade para sua casa
O estranhamento de Karim na cidade, e os pequenos conflitos cotidianos dentro de sua família, acabam revelando um retrato da vida contemporânea no Irã, que o telespectador provavelmente identificará como muito próximo da realidade de qualquer outro lugar. O contraste  entre o campo e a cidade fica bastante evidente em todo o filme, mas Majidi não quer demonstrar que o campo é bom e a cidade é ruim, mas  antes mostrar o quanto são diferentes e que um tem que entender e apreciar os valores do outro. A cidade representa avanços e tecnologia, como o aparelho auditivo que a filha de Karim necessita para as provas escolares. Assim como uma antena de TV que Karim traz para sua casa, para entretenimento da família. O campo representa a vida simples a amizade dos vizinhos e o afeto dos familiares. Mas Karim acaba se tornando obcecado em trazer mais e mais coisas da cidade para sua casa, e é a partir daí que as coisas começam a dar errado. Um dia arrumando o entulho acumulado no quintal de sua casa, Karim cai de uma escada e fica gravemente ferido, impossibilitado de trabalhar, ele começa a reavaliar o valor de todas aquelas coisas…

Uma das cenas mais espetaculares e dramáticas do filme
Hussein e seus amigos perdem os peixinhos dourados
O estilo visual dos filmes de Majidi vai além de uma mera demonstração de realismo encontrando uma beleza deslumbrante nas coisas  mais simples. A cena em que Karim  usa um bizarro disfarce de avestruz para tentar resgatar a ave perdida é sem dúvida espetacular. Mas, o momento de maior impacto visual é quando o filho de Karim e seus amigos vêem seu sonho ir por água abaixo quando derrubam o balde contendo centenas  de peixes  dourados que conseguiram comprar. Essa  imagem de beleza singular, se mostra ao mesmo tempo trágica, enquanto os peixes dourados  pulam como um mosaico vivo e cintilante no chão o menino tenta desesperadamente pegá-los. Uma cena de tirar o fôlego e partir o coração ao mesmo tempo!

Outro truque visual interessante é o momento em que pensamos estar vendo um céu estrelado, até que as mãos das mulheres entram na cena e começam a remover  as “estrelas” que na verdade são contas brilhantes que cobrem um tecido azul-escuro. Com esse simples artifício, o diretor  mostra a necessidade de um  reajuste de perspectiva que tem a ver com o que o personagem Karim deve fazer a fim de reencontrar a si mesmo diante do desespero em que se encontra, machucado e impossibilitado de ir atrás do sustento para sua família.

Um jogo de imagem mágico com um céu estrelado
 Ao contrário de seus colegas cineastas iranianos Abbas Kiarostami e Jafar Panahi que trabalham conteúdos mais  reflexivos, Majidi tende a uma abordagem mais naturalista. No entanto, como os outros cineastas, ele tentar  não dizer ao espectador sobre o que pensar sobre seus filmes. Ele prefere simplesmente contar a história e deixar as conclusõs na mão dos espectadores. “A Canção dos Pardais” é outro trabalho primoroso de Majid e um filme divertido, emocionante e especial para qualquer idade. O elenco conta com    a atuação brilhante do grande ator Reza Naji que já havia feito outros filme de Majidi, entre outros atores amadores.

Filme: A Canção Dos Pardais
Irã |Drama |95 min. | cor
Legendado em Português
Direção: Majid Majidi
Título Original: Avaze gonjeshk-ha
Título em Inglês: The Song of Sparrows
Elenco:  Mohammad Amir Naji, Maryam Akbari,  Kamran Dehghan, Hamid Aghazi, Schabnam Akhlaghi,  Neshat Nazari, Hassan Rezaee, Ponya Salehi

Este post tem 0 comentários

  1. Anônimo

    Janaína, texto muito legal. Na verdade, muitos filmes são feitos sobre amores românticos, mudando a moldura, mas com a mesma essência. Fazer isso pode ser muito difícil. Abraço, José Henrique

  2. Cristina Pavani

    Jana, sempre estarei grata por ter vivido esta experiência através de ti!
    Quanta aprendizagem… Quanta reflexão.
    Um abraço.

  3. Anônimo

    Salam, Jana Jan!
    Obrigada pelo gato PERSA de presente! Shukran!
    Ele já está miando pelo jardim…
    rsrsrrs
    O filme não abriu, vou verificar o motivo, mas acho que deve ser muito interessante devido ao tema.
    Um beijo e ótima semana!

  4. Janaina Elias

    Salam Denise jan!
    Que bom que gostou do bichano persa 🙂
    O filme demora um pouco pra carregar aqui mas funciona, talvez precise de alguma atualização do flash player…
    Um beijão e usbua' sa'id!

  5. Janaina Elias

    Salam Cris, eu que estou grata de saber que proporcionei uma experiencia de aprendizado através deste trabalho. Este é um filme inesquecível, sem dúvida um dos meus favoritos!
    Beijos!

  6. Janaina Elias

    Salam Henrique, muitos filmes são feitos, mas poucos realmente ficam como uma lição de vida. Os filmes de Majidi para mim são marcantes porque fazem com que nos sintamos próximos a esses personagens da vida real.
    Abraço e ótima semana!

  7. Mourão

    Você é divina,não conhecia seu espaço.Parabéns.

  8. Janaina Elias

    Obrigada Mourão! Sou eu que devo agradecer sua passagem por aqui!

  9. Laura

    Oláaa ! adorei seu blog, e ultimamente estou assistindo só filmes iranianos um atras do outro kkk gosto demais !!! E Majid Majid então ??? virei fã dele agora kkkk estou assistindo tds os filmes…. e indico seu blog para amigos assistirem on line caso nao consigam locar ou baixar… bjos
    obrigado
    Laura

  10. Karla Mendes

    Aiiiinnnn Azizam… só de ler seu texto me emocionei… Vc coloca muito amor na divulgação de tudo que diz respeito ao Iran… o que mais posso dizer?! Obrigada! Obrigada! Obrigada! 😍💕

  11. Unknown

    Parabéns pelo blog. Assisti a este filme a 1a vez na tv futura em 2013 mas era legendado. Gostaria deste filme dublado ou legendado mas nao consigo aChar na internet. por acaso vcs têm para disponibilizar? NEM QUE SEJA ALGUM LINK, como faço? ABÇS MEU E-MAIL É fbofalcao@gmail.com

  12. blogdochico.com

    Muito bom o filme, e realmente, nos faz sentir como se vivendo o drama dos personagens. Já gostava do cinema iraniano… Aqui em Brasília, sou amigo de familias iranianas…

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