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Borgheh, ou máscara feminina, característica marcante da indumentária do sul do Irã
(Crédito das imagens: Rodolfo Contreras)
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Os habitantes da costa sul do Irã, são conhecidos como bandari (ou “gente do porto”). E é nesta região que fica a província de Hormozagan, que há milênios é um importante ponto de parada para comerciantes africanos, árabes, indianos e persas que atravessavam os mares do Golfo, resultando em um caldeirão de diversidade étnica. Ali encontramos trajes típicos bem diferentes dos que são usados em outras províncias do Irã; as mulheres preferem vestidos e véus multicoloridos ao invés do tradicional chador negro, ao passo que os homens costumam trajar roupas no estilo árabe. Mas a característica mais marcante da indumentária bandari, sem dúvida é um acessório chamado borgheh ou burqa, uma espécie de máscara usada pelas mulheres, sejam ela sunitas ou xiitas. (Veja também o post: As cores e estilos dos povos bandari).
A origem da tradição de usar máscaras, entre as mulheres bandari é um mistério. Muitos acreditam que foi durante o período em que os portugueses dominavam a costa sul do Irã, quando as moças locais tentavam se esconder para não serem capturadas como escravas ou também, como uma forma de proteger a pele e os olhos contra o sol inclemente da região. Ao contrário do que muitos pensam, as máscaras não são uma imposição da religião islâmica, mas sim parte de uma cultura que é encontrada em vários países do Golfo Pérsico, como Omã, Kuwait e outras partes da Península Arábica.
A beleza destas máscaras, se dá pela grande variedade de estilos em que são encontradas por toda a região. Enquanto algumas cobrem toda a face, outras são mais abertas revelando a área dos olhos. Algumas são feitas de couro, outras de um tecido grosso com bordado em cores brilhantes. A característica comum a todas elas é cobrir ainda que parcialmente a testa e o nariz, e às vezes as mulheres usam o véu em volta da cabeça, cobrindo também a boca. Os habitantes locais, conseguem reconhecer a origem, o status e até o local onde uma mulher nasceu, pela cor e formato da máscara que ela usa.
Nos vilarejos da ilha Qeshm, há um outro tipo especial de máscara de couro dourada usada pelas mulheres que lembra o formato de um bigode. Acredita-se que este formato foi criado há séculos para que as mulheres locais parecessem mais duras e severas. A posição estratégica da ilha, tornava-a muito suscetível às invasões estrangeiras e quando os inimigos viam as mulheres mascaradas, eles pensavam que estas eram soldados homens.
Apesar de ser uma tradição mantida há séculos, cada vez mais, as mulheres jovens estão abandonando o costume de usar máscaras, preferindo usar apenas o véu. Mas apesar da crescente modernização, mesmo sem as máscaras, a cultura bandari é conservadora, e as mulheres não gostam de ser fotografadas nem costumam falar com estrangeiros, especialmente homens. Mas é surpreendente notar como elas ostentam com charme e dignidade suas faces mascaradas, mostrando o orgulho que sentem de suas tradições singulares.
Adaptado do artigo de Rodolfo Contreras para o site BBC