Entrevista com Shadi Ghadirian, a fotógrafa mais influente do Irã

A fotógrafa iraniana Shadi Ghadirian (foto: Blouin ArtInfo
Desde sua graduação pela  Universidade Azad em Teerã com um bacharelado em fotografia, Shadi Ghadirian se estabeleceu como um dos maiores talentos criativos do Irã. Ela é mais conhecida por seus retratos evocativos que englobam uma grande variedade de assuntos incluindo a identidade feminina, censura, e questões de gênero. Inspirando-se em suas próprias experiências de vida, a artista usa humor e paródia como ponto de partida para suas investigações sobre os paradoxos do que é ser mulher no Irã. De acordo com Anahita Ghabaian Etehadieh, diretora da Galeria Silk Road e curadora de sua mais recente exposição em Lyon, na França, já nos anos 90 Ghadirian se tornou uma das primeiras fotógrafas iranianas a mudar a percepção do público sobre a arte e sociedade contemporânea do Irã. “Por meio de  um estilo único de expressão, ela começou a contradizer as imagens severas e brutais comumente associadas  ao Irã, desafiando dilemas sociais do Oriente e como o mundo via o Irã através da linguagem da arte”. 
A mostra “Shadi Ghadirian: Retrospective” atualmente em cartaz na Biblioteca Municipal de Lyon até Janeiro de 2016, é  a maior exposição já feita para celebrar o trabalho da mais influente fotógrafa iraniana da contemporaneidade. Abrangendo sua obra desde 1998 até seu mais recente trabalho em video arte, Shadi Ghadirian. Por esta ocasião, Shadi Ghadirian  foi entrevistada pela revista digital BLOUIN ARTINFO (e o trecho a seguir é uma tradução livre de autoria do Chá-de-Lima da Pérsia): 

Você nasceu no Irã em 1974 em uma época de grande conflito na região. Que impactos estes eventos tiveram na geração de iranianos a qual você pertence, no seu trabalho assim como no desenvolvimento e trajetória de sua carreira artística?  


A Revolução Islâmica foi o primeiro e mais importante evento da minha infância do qual eu tenho uma vaga recordação. Com apenas 4 anos, ocupada com minhas fantasias de criança,  eu fui arremessada em meio a um turbilhão político que varreu toda a sociedade.  Como nós vivíamos no centro da cidade eu pude ouvir com frequência a comoção e o caos nas ruas e pude ver os protestos e slogans anti-Xá escritos nos muros, onde permaneceram até eu aprender a ler 3 anos depois. Depois disto a situação se acalmou pelo menos para mim, mas isso durou por pouco tempo até a guerra estourar em 1980.No início a guerra estava longe de casa e perto das fronteiras, mas lentamente penetrou e interferiu em nossas vidas. Passei minha adolescência com o som de ataques aéreos e explosões. Eu me lembro como o som horripilante dos bombardeios e mísseis me acordavam no meio da noite, e como eu confiava nos braços de minha mãe, meu único refúgio seguro naquele tempo. Eu terminei o ensino médio ao mesmo tempo que a guerra acabou em 1988, a cidade estava coberta com fotografias e murais de mártires e eu não tinha muitas esperanças de continuar meus estudos. Minhas duas irmãs mais velhas estudaram artes, então de alguma forma eu era mais familiarizada com isso, então escolhi arte e fotografia como atividade. Eu tinha duas razões para isto, a primeira porque eu sabia mais sobre fotografia e a segunda porque era mais rápido; tudo que eu sabia então era que a fotografia era uma maneira de olhar as coisas criativamente e com mais cuidado. 


O livro “Shadi Ghadirian: Retrospective” está sendo publicado por ocasião da sua exposição na Biblioteca Municipal de Lyon. Que trabalhos aparecem na exposição e o que eles revelam sobre a sua prática? 


Nesta mostra estão todas as séries de fotografias que eu criei. Há também um trabalho novo que estou mostrando pela primeira vez. É um vídeo com o título: “Uma Solidão Alta Demais”. Esta exposição irá mostrar como eu comecei minha carreira e como ela continuou até hoje.  


Em seu trabalho você explora sua situação como uma mulher vivendo no Irã assim como as mais abrangentes implicações sociais e culturais da feminilidade. O que você quer transmitir e expressar com seu trabalho e como visa alcançar esta imagens que você criou?  


Eu tento contar diferentes histórias das mulheres iranianas, que é de alguma maneira minha própria história também. Eu quero mostrar uma mulher de diferentes pontos de vista. As questões da mulher são importantes para mim! Eu não sei como eu poderia ajudar a melhorar a situação com minhas fotos! Mas eu espero trazer alguma mudança, o que eu sei que é um trabalho difícil.  


Você usa diferentes dispositivos pictóricos e uma gama de imagens simbólicas para transmitir sua mensagem. Quais são as fontes de suas imagens e de onde vem a inspiração para as diferentes formas que você posa, compõe e constrói em suas imagens?   


Estes dispositivos pictóricos vem diretamente da minha vida! Eu acredito que nós vivemos em uma sociedade de grandes contrastes. Então eu apenas observo o meu ambiente! É muito fácil para  mim olhar, pensar e falar sobre as coisas mais próximas de mim.  


O Irã ainda continua a ser foco de tensões políticas, sociais e culturais. O que você acredita ser sua responsabilidade e obrigação como uma mulher artista iraniana e qual é sua visão no amplo papel que a arte tem para resolver os problemas atuais do Irã?  


Eu não acho que a arte possa resolver nada. A única coisa que nós devemos fazer é ajudar as pessoas a olhar ao redor e para elas mesmas. Ajudar as pessoas a ter uma visão melhor e fazer eles pensarem é como um trabalho em tempo integral para mim. É por isto que eu prefiro mostrar minhas fotos não somente nas galerias! Eu amo mostrar meu trabalho em locais públicos onde mais pessoas possam vê-lo. 

(Adaptado de BLOUIN ARTINFO)


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