Majid Majidi: o cinema do Irã para o mundo

O diretor Majid Majidi
Majid Majidi, é sem dúvida o mais aclamado entre os diretores iranianos pela crítica internacional. Seus filmes memoráveis  e delicados, ganharam o mundo mostrando a simplicidade e a beleza da vida nos eventos cotidianos de adultos e crianças das classes sociais mais humildes de seu país. Por trás de sua  carismática figura, há o talento para captar contrastes sociais e impactar positivamente um grande público influenciando uma nova geração de cineastas iranianos.
Nascido em uma família de classe média de Teerã em 1959, aos 14 anos de idade Majidi  já atuava em grupos de teatro amador e estudou no Instituto de Artes Dramáticas de Teerã. Após a Revolução Islâmica em 1979, seu interesse por cinema o levou  também a atuar em vários filmes, incluindo um papel no filme “Boicote” do notável diretor Mohsen Makhmalbaf  (1985). Sua estréia  como diretor em um longa-metragem veio em 1992, com “Baduk”, vencedor de três prêmios em seu país.

 Walter Salles e Majidi  (Oscar 1999)

Em 1998, Majidi dirigiu  “Filhos do Paraíso”, que foi o primeiro longa-metragem iraniano indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro que na ocasião perdeu para o filme italiano “A Vida é Bela” de Roberto Benigni (no mesmo ano em que “Central do Brasil” de Walter Salles também foi indicado pela Academia). Nos anos posteriores, Majidi dirigiu outros longas de sucesso como “A Cor do Paraíso”,  de 2000, “Baran” de 2001, e “Entre Luzes e Sombra” de 2005. Ele também dirigiu um documentário de longa-metragem intitulado “Barefoot to Herat”, que narra a vida nos campos de refugiados da cidade de Herat  no Afeganistão, durante e após a ofensiva anti-talibãs de 2001.

Em  2008, o aclamado  “A Canção dos Pardais” foi o filme de abertura do Festival de Cinema Internacional Visakhapatnam na Índia . Majid Majidi também  foi um dos cinco cineastas internacionais convidados pelo governo de Pequim para criar um  curta documentário sobre a cidade de Pequim , em preparação aos Jogos Olímpicos de Verão de 2008 que se realizou na capital chinesa, o projeto foi intitulado “Vision Beijing”.
Majidi se recusou a participar de um festival de cinema na Dinamarca em protesto contra a publicação das caricaturas satirizando o profeta Maomé em um jornal do país. Sobre sua retirada desse festival,   escreve: “Eu acredito em Deus e vivo com as minhas crenças a cada momento de minha vida. Gostaria de protestar contra o insulto a qualquer crença ou ícone religioso. Por esta razão, gostaria de anunciar minha retirada do seu festival. “

Majidi e o menino Amir Hashemian de “Filhos do Paraíso”

Com orçamentos baixíssimos e poucos recursos, no país são feitos uma média de 70 a 80 filmes por ano, sendo que de 40 a 50 deles são o tipo de filme feito para o entretenimento, semelhante a muitos filmes de Hollywood e que na opinião de Majidi “estão lá para consumo rápido e realmente não causam nenhum impacto no público”. Cientes das restrições ideológicas e por razões políticas os cineastas iranianos são obrigados a nadar contra a maré das produções holliwoodianas, Majidi acredita que poucos filmes feitos pelos cineastas de seu país chegarão ao público estrangeiro a não ser por meio dos festivais internacionais, ou seja, o tipo de produção que está longe do “verdadeiro mercado de cinema”. Mas o diretor admite que o sucesso de um cineasta é medido pela exposição que esses filmes adquirem ao alcançar o mercado de cinema mainstream.

No atual contexto politíco do Irã, Majidi considera que ocorreu uma abertura para os cineastas de seu país após a eleição do presidente Khatami (cujo mandato foi de 1997 a 2005, sendo sucedido pelo então presidente Ahmadinejad) que “foi Ministro da Cultura e Orientação, e desempenhou um papel vital no desenvolvimento do cinema iraniano internacional”.

A maestria de um cineasta como Majidi está em produzir filmes que falam em uma linguagem clara e simples como encontrar uma saída para o problema da intolerância devido ao estranhamento cultural entre os povos. Assim ele declara :  “A linguagem da política, e a política em si, sempre criaram diferenças entre as pessoas. Mas a linguagem artística e cultural da nossa civilização sempre agiu de outra maneira: ela sempre uniu as pessoas. Além disso, a política sempre produz resultados transitórios. Pode haver grandes mudanças, mas as mudanças nem sempre duram muito tempo, enquanto que o impacto produzido através da arte e da cultura vai durar muito mais tempo. Basicamente, cultura e arte são baseados em características comuns entre as pessoas. Não importa o país ou cultura, você sempre acredita em amizade, você sempre acredita nos valores humanos, e você sempre acredita na paz. Estes são os valores básicos que todo mundo acredita, e nós podemos demonstrar esses valores e fazê-los permear através das manifestações culturais e artísticas.”

Majidi e o ator Reza Naji durante as filmagens de “A Canção dos Pardais”

Muitos se perguntaram qual é a necessidade de expor a pobreza existente no Irã em um filme como “Filhos do Paraíso”, se o país já possui uma imagem internacional tão obscurecida? Majidi aponta que a preocupação de sua arte não está em revelar o lado cruel da pobreza como uma maneira de impactar o público e alertar sobre a situação miserável de alguns grupos no país. Mas retratar o caráter digno de seus personagens que atuam  representado a vida em situações limites, tão valorosamente quanto fariam atores em papéis de pessoas em condições sociais melhores. Como um competente diretor e artista, a harmonia criada pelos combinação de elementos simbólicos, atores, cenário, música e trabalho de câmera e edição nos filmes de Majidi preenchem as expectativas até mesmo daqueles que  possuem um senso estético mais exigente.
Sobre o seu impensado sucesso, e seu triunfo pessoal com as sucessivas premiações internacionais de “Filhos do Paraíso”, declara o diretor Majidi: “Acontece que eu estava certo, e o filme foi muito bem sucedido no Irã. Ele quebrou recordes de bilheteria e ganhou vários prêmios em nosso equivalente do Academy Awards. Os produtores achavam que não havia mercado para um roteiro como este, e quando o filme foi feito, ele revelou que, sim, havia um mercado para ele.”

O público do Brasil teve a oportunidade de conhecer outros de seus filmes em várias edições da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Vale a pena ver também uma cena inesquecível de “Filhos do Paraíso”

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Este post tem 0 comentários

  1. Anônimo

    Virei fã do Majid Majidi !!!
    bj
    Laura

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