célebre poetisa e cineasta iraniana Forugh Farrokhzād, considerada uma
das mais influentes vozes femininas da poesia no século XX.
uma família de classe média sendo a terceira de sete irmãos. Aos 15 anos ela
ingressou na Escola Técnica Kamalolmolk, onde estudou moda e artes manuais. Aos
16, ela se casou com seu primo, o aclamado poeta satírico Parviz Shapour apesar
de sua família ser contra e um ano depois teve seu primeiro filho Kamyar, para
o qual dedicou “Um poema para você”. Seu casamento com Parviz durou apenas 3
anos, e após o divórcio seu ex-marido ganhou a guarda do filho. Após este
episódio, ela decidiu atender seu chamado para a poesia e seguir a vida como
uma mulher independente.
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Forugh com Parviz Shapour e seu filho Kamyar | Crédito: Sinarium |
(A Cativa), contém quarenta e quatro poemas. Neste mesmo ano ela sofreu um
colapso nervoso e foi internada em uma clínica psiquiátrica.
viagem de nove meses pela Europa, e também neste ano ela publicou seu segundo
trabalho, contendo vinte e cinco poemas líricos curtos, intitulada Divar
(O Muro), dedicados a seu ex-marido. Ao retornar para o Irã teve início o relacionamento
de Forough com o escritor e cineasta Ebrahim Golestan que motivou sua
inclinação para expressar a si mesma e a viver uma vida independente. Em 1958, a terceira coleção de poemas de
Forough. Esian (Rebelião), estabelecendo a ascensão de sua carreira como
poeta.
com o aclamado “A Casa é Escura”. Filmado em Tabriz, este documentário
que mostra a vida em um leprosário foi aclamado internacionalmente e ganhou
diversos prêmios. Durante os doze dias
das filmagens, ela se apegou a Hossein Mansouri, filho de um casal do
leprosário, e adotou o menino que passou a viver na casa de sua mãe. Em 1963 a UNESCO produziu um documentário de trinta minutos
sobre Forugh. O renomado cineasta Bernardo Bertolucci também veio ao Irã para entrevista-la
e decidiu produzir um filme sobre a vida da poetisa.
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Durante as filmagens de “A Casa é Escura” (1962) | Crédito: Wikimedia Commons |
Digar (Outro Aniversário), com trinta e cinco poemas compostos durante um
período de seis anos foi publicada. Sua poesia se tornara madura e sofisticada
e uma rompeu profundamente com as convenções anteriores da poesia iraniana
moderna. E em 1965, sua quinta coleção de versos “Vamos crer no início da
estação fria” estava sendo impresso, mas foi publicado somente após sua morte.
acidente enquanto dirigia seu automóvel ao voltar da casa de sua mãe em Darrus.
Tentando evitar a colisão com um ônibus escolar, ela se chocou contra uma
parede de pedra e ficou gravemente ferida. Com apenas 32 anos, no auge de sua
criatividade faleceu uma das mais importantes vozes femininas da moderna poesia iraniana
moderna. Seu enterro foi ao cair da neve no cemitério de Zahiro-Doleh em Teerã.
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Forugh Farrokhzad, ícone da resistência feminina | Crédito: Farrokhzadpoems |
a respeito do casamento, da luta das mulheres iranianas e de sua própria
situação como esposa e mãe incapaz de viver uma vida convencional em poemas
como “Cativa”, “A banda de casamento”, “Chamado aos braços” e “Para minha irmã”.
Como mulher divorciada escrevendo poesias controversas em Teerã, Forough atraiu
para si muita reprovação por parte da sociedade conservadora. Além disso, ela
teve vários relacionamentos breves um dos quais descreve em seu poema “O Pecado”.
foi censurada durante mais de uma década após a Revolução Islâmica. No entanto
ela é agora lembrada como uma famosa poetisa iraniana e defensora dos direitos
das mulheres. Ela escreveu sua poesia em uma época muito difícil para as
mulheres e suas poesias se tornaram controversas por sua ousadia e duras
críticas a situação das mulheres na sociedade iraniana. Em outras palavras, a
obra de Farrokhzad, é considerada a voz da mulher iraniana e mais de 50 anos
depois sua influência ainda ressoa, ainda mais poderosamente e diretamente do
que seria possível para as poetisas do Irã de hoje em dia.
DE FORUGH FARROKHZAD
portuguesa. Por isso deixo com vocês duas traduções livres e em outras
oportunidades postarei mais poemas:
OUTRO NASCIMENTO
Todo o meu ser é um cântico escuro
a perpetuar você
cântico que o levará ao amanhecer de eterno crescer e
desabrochar
Neste cântico eu suspirei você, suspirei.
Neste cântico eu uni você à árvore, à água, ao fogo.
A vida é talvez
uma longa estrada através da qual, uma mulher
carregando um cesto, passa todos os dias
A vida é talvez
uma corda com que um homem se pendura num galho
a vida é talvez uma criança voltando da escola.
A vida é talvez acender um cigarro,
repouso entorpecido entre dois atos de amor,
ou um passante confuso
que tira o chapéu para outro passante
com um sorriso vazio e um “bom dia”.
A vida é talvez o momento sem saída
quando meu olhar se destrói nos raios da íris dos seus olhos
e nisso há um sentimento
que se mescla à percepção da Lua
e da escuridão.
Numa sala, do mesmo tamanho que a solidão, meu coração é tão grande quanto o amor
que olha os simples pretextos da sua felicidade
na bela decadência das flores de um vaso
nos brotos que você plantou no nosso jardim,
na canção dos canários
que cantam na medida da janela.
Ah
esta é a parte que me cabe
esta é a parte que me cabe
parte que me cabe
é um céu que, quando cai
a cortina, é arrancado de mim.
A parte que me cabe desce uma escada sem uso
e alcança certa podridão e nostalgia.
A parte que me cabe é um passeio triste no jardim de memórias
ao deixar a vida na dor de uma voz que me diz:
Eu gosto das suas mãos.
Plantarei minhas mãos no jardim
e vou germinar, eu sei, eu sei, eu sei
e andorinhas botarão ovos
na cavidade manchada de tinta dos meus dedos.
Vestirei um par de cerejas vermelhas e idênticas, como brincos,
e enfeitarei com pétalas de dálias, as minhas unhas.
Há uma rua
onde os meninos que eram apaixonados por mim
demoram-se, ainda, com os mesmos cabelos despenteados,
pescoços finos e pernas magras.
Pensar no sorriso inocente de uma menina
que uma noite foi levada pelo vento.
Há uma rua
que meu coração roubou
dos bairros da minha infância.
Ao longo do tempo, a viagem de uma forma
insemina a linha seca do tempo,
uma forma consciente de uma imagem
voltando de uma festa num espelho.
E é dessa forma
que alguém morre
ou continua a viver.
Nenhum pescador achará uma pérola num miserável riacho
que deságua num açude.
Eu conheço uma triste fada,
que vive num mar imenso
e toca seus sentimentos mais profundos na flauta de madeira,
Pouco a pouco
uma pequenina e triste fada
morre com um beijo a cada noite
e renasce com um beijo a cada amanhecer.
SAUDAREI O SOL NOVAMENTE
Eu saudarei o sol novamente
Saudarei os córregos que fluem de mim
Saudarei as nuvens, meus longos pensamentos
O doloroso crescimento das flores no jardim
Que me acompanham na travessia da seca;
Saudarei os bandos de corvos que me trouxeram
A fragrância dos campos noturnos;
Minha mãe morava no espelho
E era a imagem da minha velhice;
A terra, com minha luxúria cotidiana
Preencheu suas entranhas, apaixonadamente, com sementes verdes.
Saudarei tudo isso novamente.
Eu virei, eu virei,
eu virei com meus cabelos: a continuação dos odores subterrâneos
Com meus olhos: as densas experiências da escuridão
Com as plantas que colho
Da floresta, atrás do muro.
Eu virei, eu virei, eu virei
E a chegada será preenchida de amor
E lá
Saudarei mais uma vez os apaixonados
E a menina que está em pé
Na entrada,
cheia de amor.
Traduções do livres inglês para o português realizadas por Gabriela Galli, a partir do livro Once again, Another Birth. Editor: Tofighafarin, Irã.
Another Birth and Other Poems by Forugh Farrokhzad, tradução por Hasan Javadi – Mage Publishers, 2013
Que momento feliz descobrir tal poetiza brilhante!
Muito bom!