O poeta Jami

Salam amigos! Hoje é o aniversário de um importante poeta místico persa do século XIII. Nureddin ‘Abd ar-Rahmān Jāmī, conhecido simplesmente como Jami. Ele foi um  prolífico estudioso e escritor da literatura mística sufi e pertencia à ordem sufi Naqshbandi. Uma de suas obras poéticas mais famosas é o Haft Awrang (Os Cinco Tronos). No post de hoje, vamos conhecer mais sobre sua vida, obra e influência.  

A vida do poeta Jami 

Poeta persa Jami
Miniatura persa representando o poeta Jami (autor desconhecido)

Jami nasceu no vilarejo de Kharjerd (localizado na atual província de Razavi Khorasan) no Irã em 1414. Seu pai veio de Dasht, uma pequena cidade no distrito de Isfahan e foi seu primeiro professor. Alguns anos depois de seu nascimento, sua família migrou para Herat (atual Afeganistão), onde ele iniciou seus estudos em matemática, literatura persa, ciências naturais, língua árabe, lógica, retórica e filosofia islâmica na Universidade de Nizamiyyah. Em Herat, Jami ocupou uma posição importante na corte timúrida, como intérprete e tradutor, envolvido na política, economia, filosofia e vida religiosa da época. Posteriormente, ele foi para Samarcanda, o mais importante centro de estudos científicos do mundo islâmico na época, onde concluiu seus estudos.

O sobrenome de Jami era Dashti, mas ele escolheu usar Jami (da cidade de Jam no Afeganistão) por dois motivos que mais tarde mencionou em um poema:

Meu local de nascimento é Jam, e minha pena

Bebeu do (conhecimento de) Sheikh-ul-Islam (Ahmad) Jam
Inevitavelmente, nos livros de poesia
Por essas duas razões meu nome de poeta é Jami 

 

Sabe-se que Jami tinha um irmão chamado Molana Mohammad, que também foi um homem culto e mestre em música, que é mencionado em um de seus poemas no qual ele lamenta sua morte. Jami teve quatro filhos, mas três deles morreram antes de completar o primeiro ano. Seu único filho sobrevivente foi Zia-ol-din Yusef  para o qual ele dedicou sua obra  Baharestan (O Jardim da Primavera).

Jami faleceu provavelmente em novembro de 1492 na cidade de Herat. Seu funeral foi conduzido pelo príncipe de Herat e assistido por um grande número de pessoas que prestaram grandes homenagens a ele. O túmulo do poeta ainda se encontra nesta mesma cidade, no atual Afeganistão.

 

Em sua lápide está escrito: 

Quando seu rosto está escondido de mim, como a lua escondida em uma noite escura, eu derramo lágrimas de estrelas e ainda assim minha noite permanece escura, apesar de todas essas estrelas brilhantes.

Poeta persa Jami
Túmulo do Poeta Jami, em  Herat, no Afeganistão CC BY-SA 4.0 

As obras de Jami 

Jami escreveu aproximadamente oitenta e sete livros e cartas, alguns dos quais foram traduzidos para o inglês. Suas obras vão da prosa à poesia e do mundano ao religioso. Ele também escreveu obras de história e ciência. Além disso, ele frequentemente comenta o trabalho de teólogos, filósofos e sufis anteriores e contemporâneos. Sua poesia também foi inspirada pelos ghazals de Hafez, e sua obra mais importante, Haft Awrang (Os Sete Tronos), foi influenciada pelas obras de Nezami. 

O Haft Awrang,  escrito no estilo masnavi (distícos), é uma coleção de sete poemas. Cada poema conta uma história diferente, como Salaman va Absal, que conta a história de uma atração carnal de um príncipe por sua ama-de-leite. Ao longo dessa história, Jami usa o simbolismo alegórico  para descrever os estágios principais do caminho sufi, aproveitando para expor questões filosóficas, religiosas ou éticas. 

Jami também é conhecido por suas três coleções de poemas líricos que vão desde a juventude até o final de sua vida, chamadas Fatihat al-shabab (O Começo da Juventude), Wasitat al-‘ikd (A Pérola Central no Colar) e Khatimat al-hayat (A Conclusão da Vida). Ao longo de toda sua obra, as referências ao sufismo  surgem como tópicos-chave. 

Poeta persa Jami
“Yusuf e Zuleikha” ilustração do manuscrito Haft Awrang de Jami, pintura por Behzād, 1488.

Jami e o Sufismo 

Em cada véu que você vê, a Beleza Divina está oculta, 

tornando cada coração um escravo dele.

No amor por ele, o coração encontra sua vida;
no desejo por ele, a alma encontra sua felicidade.

(Jami)

Em seu papel de sheikh sufi, que iniciou em 1453, Jami expôs vários ensinamentos a respeito de seguir o caminho  do sufismo Ele era conhecido por seu compromisso com Deus e seu desejo de se separar do mundo para se aproximar de Deus. 

Após seu ressurgimento no mundo social, ele se envolve em uma ampla gama de atividades sociais, intelectuais e políticas no centro cultural de Herat. Ele era seguidor da escola de Ibn Arabi, mas muitas vezes, não seguia sua metodologia, como na questão da dependência mútua entre Deus e suas criaturas, Jami, acreditava que “Nós e [Deus] não estamos separados um do outro, mas precisamos de[Ele] enquanto [Ele] não precisas de nós “

Além disso, Jami foi de várias maneiras influenciado por vários mestres sufis antecessores e contemporâneos, incorporando ideias deles às suas e desenvolvendo-as ainda mais, criando um conceito novo. Para ele, o amor ao profeta Mohammad era o degrau fundamental para iniciar uma jornada espiritual. Conta-se que para um aluno que pediu para ser seu pupilo, o qual alegou nunca ter amado ninguém, ele disse: “Vá e ame primeiro, depois venha a mim e eu lhe mostrarei o caminho”.  

A influência das obras de Jami no mundo islâmico


Jami continua a ser conhecido não apenas por sua poesia, mas por suas tradições eruditas e espirituais no mundo falante de persa. Ao analisar o trabalho de Jami, a maior contribuição dele pode ter sido sua análise e discussão da misericórdia de Deus para com o homem, redefinindo a maneira como os textos anteriores foram interpretados.

As obras de Jami se tornaram populares no Oriente islâmico, na Ásia Central e no subcontinente indiano. Seu trabalho foi usado em várias escolas da Pérsia, de Samarkand a Istambul, assim como no império Mughal da Índia.

Durante séculos, Jami foi reconhecido por sua poesia e profundo conhecimento, porém nos últimos 50 anos, começou a ser negligenciado e suas obras esquecidas, o que reflete uma questão abrangente na falta de pesquisas de estudos islâmicos e persas.

A influência de Jami na arte persa 

Poeta persa Jami
Ilustração do manuscrito Baharestan (Jardim das Rosas) de Jami, de 1553.

Os escritos de Jami estão entre os mais frequentemente ilustrados na história da pintura de manuscritos persas (miniaturas persas). No século XV, a popularidade do sufismo levou à ascensão de obras literárias com conteúdo sufi entre os textos mais encomendados para ilustração. Durante o reinado do timúrida Ḥosayn Bayqara (1470-1506), a cidade de Herat, onde Jami residiu durante a maior parte de sua vida, tornou-se o centro da literatura e da produção de livros no mundo persa.

Os últimos anos da vida de Jami coincidiram, portanto, com o ponto alto na história da pintura em miniatura persa. A última década de sua vida também corresponde ao surgimento de mestres miniaturistas, incluindo Kamal-al-Din Behzad.

O patrocínio em larga escala da poesia e da pintura por membros da corte de Herat como o governamente Ḥosayn Bayqara e a própria posição de destaque de Jami, como poeta e mestre da ordem sufi Naqshbandi, provavelmente contribuíram para que suas obras servissem como temas para ilustrações de livros enquanto ele ainda era vivo. 

Talvez a mais notável e elaboradamente ilustrada entre as obras de Jami seja o manuscrito Haft Awrang  do período Safávida, que se encontra atualmente na Freer Galley of Art em Washington DC, com suas 28 miniaturas magistrais ​​executadas entre 1556 e 1565.

Onde encontrar traduções da obra de Jami


Atualmente, não existem obras de Jami traduzidas para o português, mas é possível encontrar versões e coleções de poemas em inglês:

📗 Divan of Jami

📗 Flashes of Light: A Treatise on Sufism (English Edition)

📗 Jami: Life & Poems (Introduction to Sufi Poets Series Book 23)

📗 Salaman and Absal (English Edition)

🔗Fontes:

JĀMI iii. And Persian Art – Encyclopaedia Iranica | Jami – Wikipedia

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