Uma breve história dos Tapetes Persas

Salam amigos! No post de hoje vamos conhecer uma breve história de uma das manifestações artísticas mais importantes do povo iraniano, o tapete persa. 

A história do tapete persa  remonta a 2.500 anos atrás. Os iranianos estavam entre os tecelões de tapetes pioneiros das antigas civilizações. De simples artigos de necessidade para proteger os nômades do frio e da umidade, ao longo da história, os tapetes tornaram-se uma forma de arte e sofisticada que passou a ser adquirida por reis e nobres, que os viam como sinais de riqueza, prestígio e distinção.

Origens do Tapete Persa 

O luxo associado aos tapetes persas, contrasta imensamente com sua modesta origem entre as tribos nômades da Pérsia. As temperaturas extremamente frias do planalto iraniano obrigavam os povos tribais que habitavam em tendas a se proteger contra o frio. Os seus rebanhos de ovinos e caprinos forneciam-lhes lã de alta qualidade e durabilidade para este fim.
O gosto dos nômades pela beleza natural deu origem a criação dos desenhos complexos de cores ricas que mais tarde foram levados para as cidades onde foram incorporadas tradições e estilos de cada local. Os segredos da tecelagem têm passado de geração em geração.
Os tapetes persas podem ser divididos em três grupos: Farsh / Qāli (superior a 1,80×1,20 m), Qālicheh (igual ou menor a 1,80×1,20 m), e tapetes nômades conhecidos por Kilim (rústico). Através das várias épocas da história iraniana esta arte sofreu muitas mudanças e já dava indícios de seu crescimento antes da era islâmica. 

Das cortes persas a exportação para o Ocidente 


A arte da tapeçaria existe no Irã desde os tempos antigos, de acordo com as evidências arqueológicas. Um exemplo é o tapete Pazyryk produzido no período Aquemênida, por volta de 500 a.C.. Registros históricos mostram que a corte aquêmenida de Ciro, o Grande em Pasárgada era decorada com magníficos tapetes. É dito que Alexandre II da Macedônia ficou deslumbrado com os tapetes que viu na área do túmulo de Ciro, o Grande em Pasárgada.

Detalhe do tapete Pazyrik (500 a.C)
A primeira evidência documentada da existência de tapetes no Irã  data da dinastia Sassânida (224 – 641 d.C). O tapete Bahârestân (tapete “da primavera”) foi encomendado pelo xá sassânida Khosrow Parviz   para a sala principal de audiências do Palácio Imperial em Ctesifonte (atual Iraque). 
Este tapete que media cerca de 8m² passou para a história como o mais precioso de todos os tempos. A descrição dos historiadores árabes é a seguinte: “A borda era um magnífico canteiro de pedras azuis, vermelhas, brancas, amarelas e verdes; ao fundo a cor da terra era imitada com ouro; pedras claras como cristais davam a ilusão de água; as plantas eram em seda e os frutos eram formados por pedras coloridas”.  Em 637, quando a capital iraniana  foi ocupada, o tapete Baharestan foi levado pelos árabes, cortado em pedaços menores, e dividido entre os soldados vencedores como espólio.
No século VIII, a província de Tabarestan (atuais Golestan, Mazandaran e Semnan), além de pagar impostos, enviava 600 tapetes para as cortes de califas em Bagdá a cada ano. Naquela época, os principais itens exportados dessa região eram tapetes, carpetes e pequenos tapetes para orações. Além disso, os tapetes de Khorasan, Sistan e Bukhara, com seus designs sofisticados estavam entre os mais apreciados pelos mercadores. Durante essa época foram criados os centros de tingimento ao lado dos teares das tecelagens de tapetes.
Após o período de dominação pelos califados árabes, a tribo turca dos seljúcidas conquistou a Pérsia. Sua dominação (1038 – 1194) foi de grande importância na história dos tapetes persas. As mulheres seljúcidas eram hábeis fabricantes de tapetes usando nós turcos. Nas províncias do Azerbaijão e Hamadan, onde a influência seljúcida foi mais forte e duradoura, o nó turco é usado até hoje.
Após a invasão do Irã pelos mongóis, a arte da tapeçaria começou a crescer durante o reinado das dinastias dos Timúridas e Ilkhanidas. O palácio de Tabriz, pertencente ao líder Ilkhanida, Ghazan Khan (1295 – 1304), tinha pisos pavimentados cobertos com preciosos tapetes. O governante mongol Shah Rokh (1409 – 1446) contribuiu para a reconstrução de muito do que foi destruído pelos mongóis e incentivou as atividades artísticas da região. 
O tapete persa atingiu seu apogeu durante o período Safávida no século XVI. De fato, as primeiras provas concretas desse ofício datam desse período. Aproximadamente 1500 exemplares estão preservados em vários museus e em coleções particulares em todo o mundo. 
Durante o seu reinado,  Shah Abbas (1587 – 1629), incentivou contatos e comércio com a Europa e transformou sua nova capital Isfahan, em uma das cidades mais gloriosas da Pérsia. Ele também criou uma oficina de tapetes da corte, onde designers e artesãos qualificados trabalharam para criar espécimes esplêndidos. A maioria desses tapetes era feita de seda, com fios de ouro e prata. 
O período glorioso do tapete persa terminou com a invasão afegã em 1722. Quando Nader Shah expulsou os afegãos e tornou-se o xá da Pérsia em 1736 e durante vários anos turbulentos após a sua morte em 1747, não foram feitos tapetes de grande valor, e apenas nômades e artesãos em pequenas aldeias continuaram a tradição deste ofício.
No último quarto do século XIX e durante período  Qajar, o comércio e o artesanato recuperaram a sua importância. A fabricação de tapetes floresceu mais uma vez com os comerciantes de Tabriz exportando tapetes para a Europa através de Istambul. No final do século XIX, algumas empresas europeias e americanas chegaram a estabelecer negócios na Pérsia e organizar a produção artesanal destinada aos mercados ocidentais.
Durante este período, Arak e seus subúrbios na província Central foram o maior centro de tecelagem de tapetes. Os tapetes tecidos nesta região foram divididos em quatro categorias pelos comerciantes. O melhor destes era chamado Sarouq, o segundo tipo foi chamado Mahal e o terceiro tipo Moshirabad. O último tipo destes era conhecido como Leilahan e era tecido principalmente em pequenas aldeias da Armênia.

Os tapetes persas que chegaram aos nossos dias   

O tapete persa mais antigo, que chegou até os nossos dias, é um exemplar da era Safávida (1501-1736), conhecido como Ardabil, atualmente no Museu Victoria & Albert, em Londres. Este tapete  tem sido objeto de intermináveis cópias de vários tamanhos e até mesmo Adolf Hitler possuía um ‘Ardabil’ em seu escritório em Berlim.

Detalhe do famoso tapete Ardabil 

As duas guerras mundiais representaram um período de declínio para os tapetes persas. A produção volta a crescer depois de 1948, graças ao incentivo dado pela dinastia Pahlavi. Em 1949, o governo iraniano organiza uma conferência em Teerã para solucionar os problemas da queda da qualidade dos tapetes, constatados desde os últimos sessenta anos. Como resultado desta conferência, o governo tomou uma série de medidas que levaram a uma renovação do tapete persa.
Com a revolução islâmica a produção de tapetes persas diminuiu extraordinariamente uma vez que o novo regime considerava os tapetes como um “tesouro nacional” e proibiu a sua exportação para o Ocidente. Esta política foi abandonada em 1984, devido à importância dos tapetes como fonte de renda. As exportações conheceram um novo avanço no final da década de 1980 e com o término da guerra Irã-Iraque. 
Atualmente, as técnicas tradicionais de tecelagem estão bem vivas, apesar da maior parte da produção atual  ser mecanizada. Os tapetes tradicionais tecidos à mão são comprados no mundo todo e geralmente são muito mais caros que os confeccionados à máquina por serem um produto artístico. E nos últimos anos, os tapetes iranianos vêm sofrendo com as falsificações feitas em outros países. 
No Museu do Tapete do Irã, em Teerã, podem ser vistas muitas peças únicas de tapetes persas.

🔗Fontes: 

Este post tem 0 comentários

  1. Cristina Pavani

    Jana! Cá estou novamente…
    Que triste terem recortado o tapete em prol dos soldados!
    Os teares tradicionais sempre me encantaram, assim como as rocas a preparar os fios.
    Quanto aos tapetinhos de oração, são os mais singelos por transmitirem larga serenidade!
    Um grande abraço, e grata pelo lindo post,
    Cri.

  2. Janaina Elias

    Olá minha querida Cri,
    e eu aqui sempre encantada com os seus comentários!
    Há muitos filmes que descrevem um pouco da fabricação tradicional de tapetes,um deles é a maravilhosa obra de arte visual "Gabbeh" dirigida por Mohsen Makhmalbaf. Dos filmes que eu disponibilizei aqui no blog "A Cor do Paraíso" e "Ouro e Cobre" também mostram que os tapetes fabricados no interior do Irã são vendidos nas cidades e uma importante fonte de renda dos habitantes das vilas.
    Um abraço carinhoso!

  3. Anônimo

    Salam, Jana Jan!

    sempre amei tapetes, desde a infância. Claro, tenho um tapete de oração, que é um mimo. Gostei de ler sobre a dinastia Qajar; creio que as obrs de Arte mais belas vieram desse período.
    Eu já fiz um tapete, mas com lã. Você conhece aquelas telas que vendem nas lojas para preenchermos os espaços vazios?
    Ah, coloquei outro video do iraniano Sami, confira quando puder.

    Um abraço fraterno.
    PS: estou curiosa sobre sua arte gráfica, quando a veremos aqui?

  4. Anônimo

    Salam, Cri! Tudo bom?

    amo tapetes de oração!

    beijos.

  5. Janaina Elias

    Salam Denise jan, também amo as artes da dinastias Safávida e Qajar, apesar de que na minha opinião cada época tem sua beleza de estilo própria. O que eu acho mais interessante sobre os tapetes, é que além de simples objetos decorativos eles tem uma espécie de aura encantada que modifica e preenche totalmente os ambientes.
    Ainda nunca trabalhei com essas telinhas, mas já vi trabalhos super criativos feitos com elas… adoraria ver o seu também. Ando numa correria danada, mas em breve vou mostrar os meus desenhos caligráficos aqui.

    Um grande abraço e ótimo fim de semana!

  6. Unknown

    olá! meu nome é Jaqueline Pepelascov…
    exstou fazendo um trabalho sobre a importância – social,cultural, econômica, artística, estética do tapete persa.

  7. Janaina Elias

    Olá Jaqueline, que interessante, seja muito bem vinda! Se quiser posso te indicar algumas fontes, mas estão todas em ingles.

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