Breve História da Cerâmica no Irã

A história da cerâmica no Irã vai desde a pré-história até os dias atuais. Mais precisamente, os utensílios de barro cozido surgiram no planalto iraniano com o início da agricultura. Os artesãos produziam uma variedade de utensílios como panelas, tigelas e potes para armazenar grãos. Em algumas escavações arqueológicas foram encontradas estátuas de barro em forma de animais e aves que presumivelmente eram usados como objetos decorativos e rituais.
Devido à posição geográfica do Irã, sendo a rota de caravanas de importantes civilizações, quase todas as regiões do país obtiveram algum conhecimento em cerâmica. Recentes pesquisas arqueológicas revelaram que havia quatro grandes olarias na região do planalto iraniano. Estas incluíam a parte ocidental do país, a oeste das montanhas de Zagros (Lurestan), e a área ao sul do Mar Cáspio (províncias de Gilan e Mazandaran). A terceira região se localizava na parte noroeste do país, na província do Azerbaijão. A quarta área ficava no sudeste, na região de Kerman e Baluchistão. A essas quatro regiões pode-se também adicionar a área de Kavir, onde a história da cerâmica remonta ao neolítico (8000 a.C).

Vaso iraniano do neolítico (c. de 8000 a.C)

Com a invenção da roda de oleiro, no 4º milênio a.C., tornou-se possível aperfeiçoar a simetria das peças e a decoração desses objetos era feita com maior  habilidade artística. Este tipo mais sofisticado de cerâmica foi produzido em várias partes do Irã revelando os laços econômicos e culturais que devem ter existido entre as comunidades pré-históricas. Idéias, técnicas e tendências artísticas devem ter viajado grandes distâncias e eram livremente trocadas. 

Em torno do 2º milênio a.C., a fabricação de cerâmica geralmente consistia de tigelas, jarros e potes simples, sem qualquer decoração, mas algumas tinham superfícies polidas e decoradas com padrões geométricos. As peças mais belas da época, no entanto, são os vasos zoomórficos (touros, camelos, carneiros, etc)  ou figuras humanas, que foram descobertos principalmente na região de Gilan. Este tipo provavelmente tinha duas funções distintas: alguns deles eram utilizados no dia a dia, enquanto outros, eram usados ​​em cerimônias religiosas. A fabricação de vasos e estatuetas zoomórficas continuou até a metade do 1º milênio a.C.

Cerâmica iraniana (c. de 1000 a.C.)
Durante o império medo-persa (séc. VIII a.C.), uma das inovações mais importantes foi a introdução do esmalte vitral, embora a evidência mais antiga aponta o seu uso em tijolos do templo elamita em Chogha Zanbil, datados do séc. XIII a.C. Com a vinda da Dinastia Aquemênida, no séc. VI a.C também foram feitos grandes avanços na fabricação de cerâmica tornando-a mais popular e difundida. No período Sassânida (224-651 d.C)  foram produzidas  figuras de terracota esmaltada das quais uma grande variedade são conhecidas hoje em dia.
Com o advento do Islã na primeira metade do séc. VII d.C, a fabricação de cerâmica gradualmente começou a mudar em todo o mundo islâmico. No início, os oleiros iranianos continuaram suas tradições pré-islâmicas. Mas, provavelmente devido ao contato com o Extremo Oriente, particularmente com a China e às mudanças trazidas pelo Islã,  novos tipos de cerâmica foram produzidos. Vale a pena ressaltar que a fabricação de cerâmica no Irã e no mundo persa esteve sempre à frente do resto do mundo islâmico.
Durante a dinastia dos samânidas (875-999 d.C.), os iranianos começaram a reviver suas tradições antigas  depois de séculos de proibições impostas pelos governantes árabes. As cerâmicas começaram a ser decoradas com belas frases caligráficas (orações e trechos do Alcorão), além de cenas de antigas histórias como Khosrow e Shirin, Bijan e Manijeh, etc. Durante o período dos Seljúcidas (1037-1194 d.C.), também foram usados padrões de animais e caligráficos na decoração dos objetos.

Cerâmica iraniana do período islâmico
A dinastia Safávida (1502-1722) marcou um período de renascimento na história da cerâmica iraniana, com a reintrodução de  técnicas esquecidas. A maestria na arte da cerâmica também floresceu nos azulejos  utilizados na decoração das mesquitas, especialmente em Isfahan. A cidade de Isfahan também produzia um tipo de louça azul e branca e um tipo de  louça policromada e esmaltada ao longo do século XIX, mas a qualidade destas nunca chegou a da cerâmica Safávida.

Perto do final do século XIX, houve um declínio geral na fabricação da cerâmica no Irã, devido principalmente, à importação de porcelana industrial mais barata produzida na Europa e Extremo Oriente. Isso significou o fim da produção de cerâmica artística no Irã que não foi revivida até início de 1970. Atualmente, a produção de  cerâmica industrial e porcelana, já não é mais uma arte. Mas, felizmente ainda existem algumas oficinas tradicionais e o interesse das pessoas por esses produtos está crescendo.

Cerâmica esmaltada artesanal do Irã

Baseado em Iran Review

Este post tem 0 comentários

  1. Anônimo

    Salam, Jana Jan!

    Sabah el Kheyr! Sempre amei cerâmicas. Essas das fotos são uns mimos. As simetrias dão um show à parte.

    Sobre o post anterior, fico a pensar como o conhecimento está sendo desprezado nos dias atuais. Será que isso não terá fim? Entramos numa era da desinformação mesmo? Mas percebo que não são todos os países que veem o conhecimento com deboche…Aqui no Brasil a situação é grave!! Professores sofrem nas salas de aula…

    Entretanto, um beijo com carinho e a luta pela valorização do saber continua, companheira!
    @>——-

  2. Janaina Elias

    Salam Denise jan, vejo que vc é tão apaixonada por artes quanto eu. Eu também aprendi muito ao fazer esta pesquisa que me levou aos primórdios da história do Irã.
    E quanto ao tema educação, realmente o conhecimento de qualidade é um privilégio de uma minoria, por isso que estamos fazendo nossa parte através de nossos blogs.

    Um beijo para minha querida poetisa do Khalij!

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