“A República Islâmica das Cirurgias Plásticas”

Fotografias da Série Hybrid Girls (2008) de  Shirin Aliabadi
Estamos acostumados com os estereótipos dos filmes ocidentais que retratam a maioria dos iranianos com seus narizes proeminentes e sobrancelhas grossas, que na minha opinião são o verdadeiro charme persa. Todavia, a juventude do Irã parece estar cansada de ter “cara de iraniano” e está aderindo cada vez mais cedo às cirurgias plásticas. Encontrei um artigo do site The Guardian que descreve através de vários depoimentos como o aumento das cirurgias estéticas no Irã reflete  desde uma insatisfação pessoal com a aparência, até a obsessão por um ideal de beleza nos moldes ocidentais.
Segundo o artigo, o Irã tem a maior taxa de cirurgias de nariz do mundo! Isto mesmo, de acordo com uma reportagem do jornal conservador Etemad, cerca de 200.000 iranianos, a maioria mulheres, fazem cirurgias a cada ano para terem narizes menores e mais arrebitados.
As cirurgias plásticas, sobretudo faciais, tem sido a única maneira que as iranianas encontraram para se  tornarem mais atraentes, já que o hijab islâmico, proíbe de mostrar outras partes do corpo: “É da natureza humana querer chamar atenção com uma bela face, pele, cabelo… mas o hijab não deixa você fazer isso. Portanto, temos de satisfazer esse instinto, mostrando a nossa ‘arte’ em nossos rostos”, diz uma mulher iraniana.

Porém, ter um rostinho de boneca no Irã, tem saído muito caro devido ao aumento da inflação nos últimos meses. Atualmente, o custo médio de uma rinoplastia no país é equivalente a cerca de R$ 6.200. Isso em um país onde o trabalhador médio em uma grande área urbana ganha cerca de  R$ 800 por mês. Não é raro encontrar garotas ostentando orgulhosamente esparadrapos no nariz na capital Teerã. Alguns dos motivos que levam as jovens iranianas a pagarem tão caro pelas cirurgias estéticas são o aumento da auto estima, a busca por um pretendente ou até mesmo aparentar status, já que a cirurgia tem um custo elevado. Porém, ao se submeterem às cirurgias, poucas pensam nas complicações que podem enfrentar no pós-operatório:

Iraniana ostenta orgulhosa seu
curativo pós-cirúrgico
“Eu não tive qualquer problema com o meu nariz, mas após as cirurgias de pálpebra e sobrancelha, eu às vezes tenho dores de cabeça, e eu sinto como se os pontos ainda estivessem lá”, disse uma jovem de nome Marjane. “Pode levar vários meses para o nariz para tomar sua forma final … estou um pouco preocupada, …”, diz Hanieh, de 35 anos, recém-operada. A moça pediu um empréstimo para comprar um carro, que vendeu para pagar a cirurgia.
Nos últimos anos, até os homens aderiram a “febre do nariz empinado”, alguns alegam questões profissionais como é o caso de Mohammad um  rapaz que trabalha em uma loja de maquiagem e acessórios em uma área movimentada de Teerã: “Eu lido com centenas de meninas e mulheres a cada dia, todas elas vêm a mim quando querem comprar  cosméticos, então eu tenho que parecer atraente para elas.”
Estudos apontam que a taxa de rinoplastias no Irã é sete vezes maior do que na América. Outros tipos de cirurgias incluindo plásticas abdominais e de seios também estão aumentando. Relatórios de especialistas na área sugerem que apenas um quinto dessas cirurgias são para fins médicos, enquanto o resto são puramente estéticas. De acordo com uma análise, a cirurgia plástica é tão comum na república islâmica quanto no Brasil.
O problema é que  com a grande demanda por cirurgias plástica, um número crescente de operações estão sendo realizadas por profissionais irregulares. Um relatório do grupo de pesquisa de patologia do Centro de Estudos Estratégicos Arya em Teerã afirma que, embora existam apenas 157 cirurgiões plásticos licenciados na capital, apenas uma média de  7.000 pessoas estão fazendo suar cirurgias nestas clínicas.
Houve um aumento conseqüente em operações mal feitas, com alguns pacientes vítimas de danos irreparáveis. “Essas cirurgias são essencialmente o resultado de uma imagem pouco saudável que as pessoas têm de si mesmas. Muitos simplesmente se vêem como muito feias. Alguns podem ter tido infâncias problemáticas. Assim, elas sofrem de baixa auto-estima e recorrem a estas cirurgias, porque acham que vão ter uma vida mais social mais agradável. Recentemente, um oficial de saúde anunciou que cerca de 30% das pessoas que fizeram a cirurgia estética está insatisfeita com os resultados”, diz Reza, um psiquiatra e conselheiro da família.


Embora, seja comum um nariz volumoso entre os iranianos, algumas mulheres alegam que após a cirurgia tem uma vida social melhor, livre de piadas e da vergonha que são obviamente por causa da influencia dos padrões estéticos impostos pelo Ocidente. Porém, algumas lições são aprendidas infelizmente depois  do procedimento cirurgico, como é o caso de Atefeh, uma mulher que caminha confiante ostentado seu nariz arrebitado: “Eu fiz a minha cirurgia  há cerca de cinco anos atrás, quando eu tinha 29 anos. Para ser honesta, uma das razões, foi para conseguir o homem dos meus sonhos, mas infelizmente eu ainda estou no mercado.”
(Baseado em artigo do site The Guardian)

Meu comentário: deixo claro aqui que não tenho nada contra as cirurgias estéticas, só quis salientar neste post o fenômeno que parece refletir uma falta de aceitação de muitos iranianos com sua auto-imagem. O nariz é um mínimo detalhe, muitas iranianas chegam literalmente a “trocar de cara”, tingindo os cabelos de loiro, usando lentes de contato e maquiagem excessiva. A questão é: se o hijab é considerado por muitos como um elemento de opressão, por que muitas iranianas perseguem tão obcecadamente a outra ditadura opressiva da moda ocidental?

Este post tem 0 comentários

  1. Star Kaur

    Você colocou uma questão importante. Deve ser uma falsa sensação de liberdade.
    Beijos!

  2. Janaina Elias

    Tem toda razão, Star. Essa é uma falsa sensação de liberdade que infelizmente a nossa cultura também promove. Aqui no Brasil eu acho que temos a ditadura do corpo perfeito" que faz muitas meninas sofrerem de bulimia e anorexia… e a ditadura da chapinha…
    Bjs!!

  3. karenCoverdale

    Verdade Janaina! Esta dificil ver alguem com cabelos cacheados =/! Eu não faria escova no meu! Pra que ter um cabelo igual ao de todo mundo? Quem faz escova definitiva/progressiva, acaba virando escrava dela. Quando o cabelo começa a crescer, a raiz não nasce lisa. Ainda assim vejo gente achando q o cabelo vai nascer liso O_O
    No caso das iranianas, acho que não há necessidade de tantas plasticas! Na minha opnião o nariz da ate um charme! Mas se algumas realmente se sentem infelizes, não sou contra.
    É triste ver o que a midia e a globalização tem feito com muitas culturas! Estamos cada vez mais parecidos com os E.U.A

  4. Janaina Elias

    Concordo Karen, uma coisa é fazer uma mudança no visual para melhorar a auto-estima, e outra é deixar-se escravizar por um padrão imposto por outra cultura. Eu também não faria progressiva para ficar com cabelo liso igual a todo mundo 🙂 Eu realmente aprecio a beleza de cada povo como eles são, no caso do nariz iraniano também acho um charme!

  5. Anônimo

    Muito interessante. É a falsa sensação de liberdade imposta por quem tem mais poder cultural.

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