Salam amigos! Com vocês, mais um capítulo da minha odisseia pelas terras da Pérsia:
Dia de me despedir da minha família em Talesh. Estava ficando acostumada com a simplicidade da casa e com a amabilidade deles. Confesso que de vez em quando chegava a ficar aborrecida com o excesso de mimos. Como eu disse, no Irã se o hóspede é um presente de Deus, em Talesh, é quase um deus! A coisa chegava ao ponto de eu não poder levantar um prato do lugar depois do almoço. Se eu estivesse sozinha por um momento pensando na vida, eles vinham perguntar: “Você está bem, está precisando de alguma coisa? Não está confortável aí? ” Mas por outro lado, era confortante estar com uma família tão carinhosa em um país estrangeiro.
Esta tarde, eu passaria aos cuidados de outra família que eu não conhecia em Tabriz, na casa de Firuze khanom que também é parente de minha amiga Afsaneh. Além dessa família, eu também ia conhecer um novo amigo Mohsen, jovem estudante de medicina que gentilmente se ofereceu para me guiar por lá.
A casa de campo era de 2 andares, rústica, de madeira, totalmente tradicional, mas com energia elétrica, água corrente e telefone. No andar de cima ficava uma sala com uma grande janela de onde podíamos ver a paisagem que tanto me encantava meus olhos no Gilan. No quintal havia galinhas, carneiros e um pomar com romãzeiras, figueiras, nogueiras tomateiros e outras plantas rasteiras que não conheço, inclusive uma delas resolveu alojar um espinho em minha sapatilha e por um triz não espetou meu pé! Como era verão, os frutos ainda estavam verdes ou nem haviam brotado.
Os irmãos de Talesh, adoram tirar fotos! Principalmente Peyman que pegava a minha câmera e toda hora dizia : “Este lugar é bonito, tira uma foto aqui vai…”Tiramos bastante fotos no pomar e almoçamos o tradicional kebab de frango com arroz. Como estava só a família ali no sítio, podíamos ficar à vontade com as roupas. De modo que quando postei minha primeira foto para os amigos no Facebook eles se chocaram de como eu estava ali no Irã, sem hejab e com os braços de fora!
Vista da janela da casa de campo em Talesh |
No verão, os frutos como essas romãs ainda estavam verdes |
E esses figos também |
Me despedindo do verdejante Gilan que tanto me encanta |
Foto de despedida com meus irmãos de Talesh |
O próprio tio Mohammad, fizera questão de comprar minha passagem para Tabriz, e foi com a família se despedir de mim no terminal. Ali ao lado do ônibus que eu partiria, voltou toda a cena do nosso encontro no aeroporto, da emoção, dos abraços porém agora Maryeh e a mãe tinham lágrimas nos olhos. Ao subir no ônibus eu chorava demais, não conseguia imaginar minha vida sem eles daqui pra frente no Irã. Pela janela vi todos dando tchauzinho para mim e fiquei olhando para eles aos prantos até o ônibus partir…
Houve uma parada no meio do caminho, mas eu permaneci dentro do ônibus. Percebi que todo mundo falava turco no ônibus, fiquei imaginando se seria assim em Tabriz também. Lá pelas alturas de Ardabil, província à meio caminho entre Gilan e Azerbaijão Oriental, uma mulher sentou ao meu lado e perguntou alguma coisa indecifrável para mim. Respondi: bebakhshid, man turist hastam… (Desculpe sou turista…) e ela perguntou depois se eu falava farsi khub. Nossa conversa se limitou há umas poucas palavrinhas, mas ela desceu antes de Tabriz e disse: Khoda hafez!. Confesso que me dava nervoso às vezes de ouvir minha família em Talesh falando em turco. E agora 6 horas de viagem ouvindo desconhecidos proseando alto naquela língua.
Estrada à caminho de Tabriz em Astara |
Estrada à caminho de Tabriz |
Aqueles pontinhos à esquerda são carneiros e cabras… |
Cheguei em Tabriz lá pelas 20:00 da noite. Mohsen já estava me esperando no terminal. Como eu o reconheci sem nunca tê-lo visto antes? Ele simplesmente me chamou no celular e quando atendi ele já veio em minha direção dizendo: Hello, are you miss Janaina? Ele tem 21 anos, fala inglês razoavelmente, é sorridente, educado, com uma cara de estudioso. Veio acompanhado de outros 2 rapazes, um deles era seu primo. Os outros rapazes não falavam inglês, mas me pareceram igualmente simpáticos e respeitosos. Eles pegaram minha malas, chamaram um taxi e me deixaram na porta do apartamento de Firuze khanom. Mohsen disse que me ligaria no dia seguinte e iríamos conhecer Kandovan.
Na hora do jantar, conheci as sobrinhas do casal. Na verdade, saí do quarto e todas já vieram em minha direção me beijando e abraçando uma a uma. Os doces e as balas de café que eu dei de presente fizeram o maior sucesso. Pediram para mostrar minhas fotos, ligando a câmera na TV da sala. Então, ali me dei conta que havia esquecido o cabo USB da câmera em Talesh e, sem ele eu não poderia carregar a câmera… Tara disse que ia tentar encontrar um cabo emprestado no dia seguinte, e nós assistimos as fotos colocando o cartão de memória na TV da sala.
Janaina Elias,
"Passei os olhos" rapidamente no texto deste post e li nada que mencionasse sobre.
Então pergunto-lhe: "- Neste lugar não há a obrigatoriedade do uso do hijab?"
Olá Hélio, eu citei isso nas 2 últimas frase do segundo parágrafo 🙂
Nesse caso estava numa propriedade particular só com a família.
Salam Janaina!
Adorei mais esse post.Somente pela leitura de seu texto, me afeiçoei por essa família tão doce e especial. Vc deve sentir saudades deles. Espero que vc possa revelos novamente em breve.
Abraço,
Ana.
Salam Ana! Sou eu que adoro saber que você está acompanhando minhas histórias. Já deve notar que eu sou muito emotiva, né? Pois sinto muitas saudades mesmo, o carinho dessas pessoas é algo que adoçou minha vida! Se Deus quiser, logo logo voltarei…
Um grande abraço!