Breve história dos cosméticos no Irã


Os registros históricos do uso de cosméticos na Pérsia advém de cerca de 3000 a.C por meio dos antigos escritos e artefatos arqueológicos. Desde esta época óleos aromáticos e unguentos eram usados para higiene corporal, corantes e tinturas naturais eram usados como maquiagem facial, principalmente em ocasiões cerimoniais e rituais religiosos. Um dos tipos de óleo mais utilizados era o de oliva, nativa da Ásia menor espalhada a partir do Irã, Síria e Palestina para o resto da bacia do Mediterrânea, há 5000 mil anos atrás. 
Pelo controle das rotas de comércio, os iranianos importavam e exportavam grandes quantidades de cosméticos, populares na região. Entretanto estes produtos eram usados muito antes da chegada dos medos e persas. Um pó branco feito de chumbo ou prata e vermelho de pedra de hematita foi descoberto em Kerman, juntamente com pinças durante a escavações dos sítios de Shahdad e Khabis datando de 5000 a.C. O tipo mais comum de maquiagem para os olhos na região era o kohl, usado como uma massa compacta de matéria finamente moída e transformada em pasta ou pó. Enquanto os egípcios utilizavam a malaquita e galena para fazer o kohl, os iranianos utilizavam o antimônio.  
A maquiagem labial era muito popular e desde os tempos pré-históricos, o ocre vermelho era utilizado para esta finalidade. Pós faciais eram feitos de óxido de ferro (hematita), ocre amarelo e pós brancos de prata ou chumbo eram abundantes no Irã. Este material era misturado com gordura, óleos ou resina em goma para tornar a aplicação mais fácil. A henna era amplamente utilizada e obtida localmente das folhas da Lawsonia alba. Óleos vegetais e animais e a cal era utilizada para fabricação de cremes faciais, alguns dos quais utilizados para limpeza. A mirra, uma resina oleosa local e a canela, comercializada extensivamente na região, eram utilizadas na produção de perfumes e desodorantes corporais. 
Há pouca informação disponível sobre o que as mulheres da corte Sassânida utilizavam como cosméticos. No entanto, fontes romanas contem uma riqueza de informações sobre as mulheres da Pérsia que usavam quase os mesmos ingredientes e misturas. Todas as antigas fórmulas ainda se encontravam em uso e novas foram acrescentadas. Pós faciais eram feitos de cal em pó (sepidab) ou chumbo branco. Sombras de olho eram utilizadas, e as sobrancelhas eram engrossadas e sua largura aumentada. Delineadores (sormeh) eram feitos de fuligem ou pó de antimônio. O açafrão era também utilizado como sombra para os olhos e perfume. Algumas mulheres desenhavam pintas negras em seus rostos, particularmente quando queriam esconder alguma imperfeição. O vermelho para os lábios era obtido do mineral ocre ou do vegetal ficus. O ocre também era utilizado para enrubescer as bochechas (sorkhab). A maquiagem facial era misturada em pequenos pratos. Cremes faciais eram feitos de leite e farinha; e a lanolina (obtida da lã do carneiro) era utilizada como loção corporal. A água de rosas era amplamente utilizada e permaneceu um item importante de cosmética até o começo do século XX.

As artes e técnicas da perfumaria permaneceram mais ou menos as mesmas por milhares de anos e mudaram somente durante a idade média. A descoberta do álcool pelo famoso cientista iraniano Razi (séc. IX) foi a maior responsável por essas mudanças. Perfumes à base de álcool, em uso nos dias atuais, substituíram as antigas fórmulas à base de óleo. Um famoso alquimista, astrônomo, filósofo, matemático, físico e poeta iraniano,  Ibn Sina (Avicenna, 980-1037) aperfeiçoou a destilação e introduziu as novas técnicas que revolucionaram para sempre a ciência da química. Ibn Sina utilizou amplamente os óleos essenciais para propósitos médicos e cosméticos. Ele escreveu mais de 100 livros, um dos quais é totalmente dedicado às rosas. Os perfumes tinham uma grande procura sendo que o mais usado era feito de rosas e cidades inteiras como Ghamsar e Kashan eram famosas por sua produção de água de rosas (golab). Este ritual praticado há seculos em Kashan está quase desaparecendo e hoje em dia é praticado por poucos produtores que ainda se dedicam a produção artesanal. O moshk, uma substancia obtida a partir do sangue de gazela, estava entre os mais caros itens de perfumaria da época.

Casa de banhos persa, pintura de Reza Karimi 

As casas de banho públicas e privadas tinham atendentes e especialistas em todos os tipos de serviços que incluiam massagem, aromaterapia, tratamento capilar, pintura corporal com henna e depilação para as mulheres. A depilação era feita com band andazi, um tipo especial de fio. A depilação era considerada um rito de passagem da adolescência para a vida adulta. Somente mulheres casadas se depilavam e afinavam as sobrancelhas. Os homens mais jovens geralmente se barbeavam completamente, enquanto os mais idosos e os mais religiosos preferiam manter a barba. Nos dias atuais, muitas adolescentes iranianas preferem aderir a moda ocidental e não seguem à risca este costume tradicional. 

O uso de sabonetes foi introduzido muito tempo depois, feito de gordura animal e apesar da produção moderna de sabonetes, ainda é possível encontrar este tipo tradicional em bazares e lojas de produtos naturais. Para lavar os cabelos, eram utilizadas folhas de lótus em pó (Sedre), que ainda se encontra em uso no Irã ao lado dos modernos shampoos nos mercados. Os cortes de cabelo eram tão variados quanto nos dias de hoje. Nas pinturas das dinastias Mogul, Safávida e Qajar, vemos mulheres com cabelos longos e soltos, ou entrançados à mostra.

A literatura clássica persa (sempre escrita por homens) mostra um retrato bem estilizado e romântico da beleza ideal feminina. Cabelos negros e cacheados, boca pequena, sobrancelhas longas e arqueadas e olhos grandes amendoados, nariz pequeno, cintura extremamente fina e face arredondada com pintas (khal) são constantemente exaltadas. As pinturas e miniaturas persas seguiam este mesmo modelo idealizado de beleza. Obviamente um modelo imaginário e irreal da beleza feminina que não deveria corresponder ao maioria das mulheres comuns da época.
Os textos medievais contém numerosas instruções a respeito de como fazer todos os tipos de item de maquiagem, o que significa que a despeito das restrições impostas pelos códigos islâmicos, as mulheres ainda eram consumidoras massivas destes produtos. A situação é comparável ao Irã dos dias de hoje, onde o uso de cosméticos e a cirurgia plástica é uma mania nacional.
A indústria cosmética mudou completamente desde a introdução das novas ciências e grandes companhias que dominaram o mercado mundial. Mas no Irã algumas das antigas fórmulas ainda estiveram em uso até o início do século XX. O sepidab, um tipo de maquiagem facial e o  sorkhab um corante para lábios e bochechas ainda são encontrados nos bazares tradicionais. O sormeh também é amplamente utilizado como delineador para olhos desde a Índia até os mais remotos cantos do Irã. Minerais para limpeza facial e corporal como o roshur foram levados pelos imigrantes iranianos para a América. A  arte corporal com henna se tornou muito popular em todo o mundo e até mesmo o método de depilação band andazi chegou é praticado em muitos salões de beleza ocidentais.

Baseado em Culture of IRAN

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