5 Caminhos para entender o cinema de Abbas Kiarostami

Abbas Kiarostami em 1997

Salam amigos!  Em 22 de junho celebramos o aniversário de Abbas Kiarostami (1940 – 2016).  O cineasta, roteirista e poeta iraniano que faleceu há 4 anos, foi um dos maiores representantes da sétima arte na contemporaneidade. Aproveitando esta ocasião, gostaria de compartilhar um ensaio belíssimo para quem deseja compreender melhor sua obra:

“A arte não faz julgamentos, o que a arte faz é nos fazer pensar”, diz  Abbas Kiarostami, uma das figuras mais emblemáticas da New Wave do cinema iraniano por suas obras alegóricas e ricas em filosofia e poesia.  Cada um de seus filmes é uma jornada de redescoberta da vida cotidiana e um olhar para o significado mais profundo de cada momento. Através das lentes de Kiarostami, problemas sociais, políticos e filosóficos são revisitados e questionados. Aqui estão cinco caminhos que você deve seguir para se conectar com a  visão de mundo do diretor: 


 1º Caminho:  do fotógrafo


Cena do filme  O Vento nos Levará (1999)

Primeiramente, Kiarostami é um fotógrafo, além de ser um cineasta e geralmente ele procura transmitir significado através de um enquadramento e composição peculiares. Quando não está filmando,  Kiarostami está tirando fotos de estradas, árvores, neve, portas, paredes, janelas e qualquer coisa que o inspire. Suas fotografias e seus filmes são sutilmente interconectados. Suas cenas longas e hipnotizantes como O Vento nos Levará e Gosto de Cereja, retratam um homem em uma jornada através de um ponto de vista onisciente, tentando encontrar seu lugar no universo. A posição de sua câmera é enigmática, às vezes em destaque, às vezes um espelho no qual os personagens vêem a si mesmos, como no final de  Cópia Fiel.   


 2º Caminho: do filósofo


Cena do filme Através das Oliveiras (1996)

Kiarostami é comparado com Tarkovsky e Bresson devido as suas abordagens místicas no cinema. Filmes como Gosto de Cereja  e O Vento nos Levará trazem a luz argumentos filosóficos e expõem questões existenciais. Em grande parte, o cinema de Kiarostami reflete uma visão Shakespeariana da vida em que “O mundo todo é um palco”, ou a vida é como um filme.  Ele sempre insere a si mesmo em seus filmes através da interpretação de papéis e apresentando os bastidores de suas filmagens como em Gosto de Cereja e Através das Oliveiras. Em Gosto de Cereja, o personagem Badi está buscando uma forma de se suicidar e no final do filme, acorda no meio da noite em meio a uma cena dirigida pelo próprio Kiarostami. Ele assiste enquanto o diretor diz “corta”. Similarmente, em Através das Oliveiras, o personagem Hossein se apaixona pela sua companheira de cena e continua cortejando a moça dentro e fora das filmagens sob a supervisão do diretor.  

 

3º Caminho: dos atores e não-atores


Cena do filme Onde fica a Casa do meu Amigo? (1987)

Embora  Kiarostami tenha experiência em trabalhar com astros de renome como William Shimel, Juliette Binoche e Homayon Ershadi, ele ama dirigir talentos crus para alcançar um senso de realismo mais forte em suas filmagens. Ele acredita que trabalhar com não-atores  o ajuda a encontrar outra dimensão para usar. Em um de seus filmes mais recentes, Como um Alguém Apaixonado, ele pacientemente dirigiu  o veterano Tadashi Okuno, que foi um acréscimo para sua vida. E durante a filmagem de Onde fica a casa do meu amigo?, o garoto Babak Ahmed Poor nem mesmo sabia que estava sendo filmado e atuando diante de uma câmera, Kiarostami sutilmente dirigiu um não-ator mirim para deixá-lo menos constrangido. 


4º Caminho: do universo feminino

Cena do filme Dez (2002)

Em quarto lugar, as mulheres são a parte mais importante dos filmes mais recentes de Kiarostami. Seu cinema reflete habilmente sobre as questões de gênero e busca retratar as lutas e preocupações femininas.  Em muitos de seus filmes como Dez ou Cópia Fiel, as protagonistas procuram por relacionamentos satisfatórios e lutam para não serem emocionalmente machucadas pelos homens. Estes filmes abrem bastante espaço para as vozes suprimidas e marginalizadas das protagonistas femininas falarem alto e a desafiar os paradigmas da sociedade na qual vivem.  

 5º Caminho: do público pensante


Cena do filme Gosto de Cereja (1997)

Finalmente, o corpo do trabalho de Kiarostami é um cinema mais de perguntas do que de respostas. Seus filmes são famosos pelos finais abertos, e por deixar o final a ser imaginado pelo público. O público é desafiado a se engajar ativamente no processo de contar a história e preencher as lacunas enquanto os créditos finais deslizam sobre a tela. Kiarostami mostra o quão bom é o cinema para levantar questões e fazer o público pensar.

🔗  Adaptado do ensaio “Cinema of Questions | Abbas Kiarostami  por Azadeh Nafissi para o site The Culture Trip (Acesso em: 22/06/2020) 
 
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