Hafez de Shiraz

Hafez, pintura de Mahmud Farshchian
Khwāja Shamsu ud-Dīn Muḥammad Hāfez-e Shīrāzī, mais conhecido simplesmente como Hafez cujo apelido significa “aquele que é conhecido por recitar o Alcorão de memória”, foi um poeta lírico e místico persa, nascido entre 1310 e 1337 na cidade de Shiraz na Pérsia (Irã) . Hafez foi educado por alguns dos principais sábios em Shiraz e suas obras selecionadas (Divan) podem ser encontradas nas casas da maioria dos iranianos, que aprendem seus poemas de cor e os usam como provérbios e ditados até hoje. Hafez se destaca entre os poetas místicos persas pela profundidade de seus pensamentos, sua liberdade de expressão, mesmo durante os momentos mais difíceis e sua poesia cheia de sentimento e delicadeza expressando sua alma e verdade em palavras.  Faz parte da cultura iraniana abrir o livro Divan-e Hafez aleatoriamente com uma pergunta ou um desejo, e deixar Hafez responder à pergunta.
Conta-se que Hafez amava tanto sua cidade natal Shiraz, que viveu lá toda a sua vida e mesmo recebendo muitos convites para viagens, recusou a todos. Há uma história sobre um dia em que ele decidiu viajar quando recebeu um convite para ir até a Índia. Porém quando chegou ao porto de Ormuz, veio uma tempestade  e Hafez não gostou da “cara  do oceano” e por isso retornou para a sua amada Shiraz.
Acredita-se que Hafez morreu aos 69 anos e sua tumba está localizada nos Jardins de Musalla em Shiraz. Mas até hoje os poemas de Hafez  influenciam muitos artistas como o músico Mohammad Reza Shajarian e tem seu lugar até mesmo no coração dos jovens iranianos especialmente após a banda de rock O-hum, ter se dedicado a usar seus poemas nas letras de suas canções. Sua poesia é também uma das fontes de inspiração do mestre da pintura iraniana Mahmoud Farshchian.

O SORRISO
”Uma destas noites, um sábio me falou: ‘É preciso conheceres o segredo daquele que nos vende o vinho.’

E ainda: ‘Não leves nada a sério. O mundo carrega de enormes fardos aqueles que dobram a cerviz.’

Depois, estendeu-me uma taça onde o esplendor do céu se refletia tão vivamente que Zuhra se pôs a dançar:

’Filho, segue o meu conselho; não te inquietes com as noites deste mundo. Guarda as minhas palavras: elas são mais raras do que as pérolas’

’Aceita a vida como aceitas essa taça, de sorriso nos lábios, ainda que o coração esteja a sangrar. Não gemas como um alaúde; esconde as tuas chagas

Até o dia em que passares por trás do véu, nada compreenderás. Não podem ouvidos humanos ouvir a palavra do anjo

Na casa do amor, não te envaideças das tuas perguntas, nem da resposta’.

Vinho, ó Saki, mais vinho: as loucuras de Hafiz foram compreendidas pelo Senhor da alegria, Aquele que perdoa, Aquele que esquece.”

O magnífico túmulo de Hafez em Shiraz
EPITÁFIO DE HAFEZ EM SHIRAZ
“Recebi, a Deus graças, a boa nova:
Vou reunir-me com meu Amado.
Vou por último abandonar esta gaiola
que tem meu espírito prisioneiro.
Amigo! Amante!
Quando venhas ao meu túmulo, vem embriagado,
de uma bebedeira que nunca decresça,
cheio seu ânimo de um fervor que engrandesse o amor,
a esperança.
Tem presente que a alegria deste mundo é curta,
passará com os anos vividos.
O importante é o que no final ficará,
dessa embriaguez que levas na Alma.”



trad. por Aurélio Buarque de Holanda, do Rubaiyat de Hafez. Livraria José Oympio Editora, RJ 1944.

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