A origem persa das “Mil e Uma Noites”

Hezār-o Yek Shab é o nome persa da coleção de contos que ficou conhecido no ocidente como “As Mil e Uma Noites”. Supostamente estas histórias foram compiladas e traduzidas para o árabe (Alf Layla wa Layla) no século IV pelo contador de histórias árabe Abu Abd-Allah Muhammed el-Gahshigar e chegaram à Europa durante a Idade Média. Mas só foram traduzidas para um idioma europeu em 1704 quando o orientalista Antoine Galland traduziu-as para o francês. Em seguida foram feitas traduções para o Inglês  por Edward Lane e Sir Richard Burton no séc. XIX.

Shahrazad e Shahryar
 (capa de um  livro Mil e Uma Noites em persa)

Fontes datadas do séc. X mencionam que esta coleção de contos  alude a existência de um livro persa chamado Hezar Afsaneh (“O Livro dos Mil Contos”), a história de um rei, seu vizir, e as filhas do vizir, Shahrazad e Dinazad. Estes mesmos personagens aparecem nas histórias que conhecemos das “Mil e Uma Noites”, embora na versão persa a trama principal seja construída em torno de dois irmãos, os reis Sassânidas Shahzaman e Shahriyar, um dos quais governava em Samarkand e o outra na Índia e na China. Ambos descobrem que suas esposas eram infiéis, dormindo com um escravo a cada vez que eles viajavam. Shahryar decepcionado e furioso, mata a mulher e o escravo, convencendo-se por este e outros casos de infidelidade que nenhuma mulher do mundo é digna de confiança.

Shahriyar, então dá  a seu vizir (ministro em persa) a missão de encontrar para ele uma nova esposa a cada noite (em algumas versões, a cada três noites). Depois de passar uma noite com sua noiva, o rei manda que esta seja executada ao amanhecer. A prática continua por algum tempo, até que a filha mais inteligente do vizir, que se chama Shahrazad (ou Xerazade) constitui um plano para se tornar  a próxima esposa de Shahriyar. Ela convence o pai a deixá-la ir  para a casa do rei, levando consigo sua irmã mais nova Dinazad. Após seu casamento, ela instrui Dinazad a pedir-lhe uma história todas as noites. Ela passa horas contando as histórias para sua irmã e o rei, e a cada vez ela pára de madrugada, em um ponto crucial, despertando assim  o interesse do rei em ouvir o resto da história na noite seguinte. E assim ela consegue fazer com que  durem por “mil e uma noites”.

Ali Babá e os 40 Ladrões

Durante este período Shahrazad dá a luz a três meninos filhos do rei, e quando ela finalmente termina de contar as histórias ele promete conceder-lhe um desejo. Ela pede ao rei para poupar a vida dela por causa de seus filhos, o que ele voluntariamente se compromete a fazer, e eles vivem felizes para sempre.

Os nomes de Shahriyar (titular de um reino; príncipe ou rei), Shahrazad (de linhagem nobre) e Dinazad (exaltando a  deusa Den) são iranianos, e o nome de Shahzaman, irmão de Shahriyar significa “xá” persa (rei) e zaman árabe (tempo). Acredita-se que a origem das histórias das “Mil e Uma Noites” seja tanto persa quanto hindu.
A temática dos contos é bem variada incluíndo contos históricos, histórias de amor, tragédias, comédias, poemas, narrativas burlescas e lendas religiosas dos muçulmanos. Algumas das histórias famosas de Shahrazad que vemos em muitas traduções ocidentais são Aladdin e a Lâmpada Maravilhosa, Sindbad o Marujo e Ali Babá e os Quarenta Ladrões, no entanto Aladdin e Ali Baba foram inseridos de fato apenas no século XVIII por Antoine Galland, que tinha ouvido falar deles através de um contador de histórias maronita  de Aleppo.

O Cavalo Mágico,
ilustração de Edmund Dulac

Entre os contos da coleção, que se crê ser de origem persa estão histórias de amor e contos de fadas, que muitas vezes incluem seres como o div (demônio) e as pari (fadas), bem como animais e pássaros mágicos. Outras histórias, como O Cavalo de Ébano, embora iniciem com uma descrição que se encaixa perfeitamente na tradição persa, são provavelmente de origem indiana. A história também conhecida como O Cavalo Mágico, fala sobre um cavalo mágico dado como presente para o rei da Pérsia. O jovem príncipe herdeiro  monta o cavalo para testar sua magia e  sai voando até  outro país (Iêmen), onde se apaixona por uma princesa. Depois de uma série  de aventuras ele retorna a terra de seu pai e  se casa com a princesa.
Várias histórias retratam djinns mágicos e lugares lendários, que são muitas vezes misturados com pessoas e lugares reais, como o histórico califa abássida  Harun al-Rashid  (nascido na Pérsia). Às vezes um personagem do conto de Shahrazad começa a contar para os outros personagens  uma história de sua autoria, e  a história pode ter um outro conto dentro dele, e assim por diante envolvendo cada vez mais o ouvinte numa espécie de trama fantástica.

Baseado em Iransaga e Wikipedia

Este post tem 0 comentários

  1. Star Kaur

    Estou fascinada pelo seu blog!!! Estou aprendendo muitas coisas aqui e o melhor, em português!!! Bjosss

  2. Janaina Elias

    Obrigada Star! Fico feliz de verdade em transmitir conhecimentos, a cada nova pesquisa sempre estou aprendendo coisas novas também! Seu blog também é maravilhoso!
    Um grande beijo!

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