A historia de Naneh Sarma, a “Mamãe do Nowruz”

Grande marionete da Naneh Sarma em Teerã
Conforme prometido, vamos conhecer mais um personagem folclórico que representa a época do Nowruz, a adorável Naneh Sarma. Às vezes chamada de “Vovó Geada” ou “Senhora do Gelo”, ela é a representante feminina do trio de personagens associados ao Ano Novo Persa que inclui o Haji Firuz e o Amu Nowruz. Como o próprio nome diz, ela representa o inverno, e assim que o Nowruz chega com a primavera, ela dá lugar ao seu filho, o Nowruz que chega trazendo as flores da estação. Compartilho com vocês um delicado conto que apresenta a provável origem de diversas tradições desta época:
Há muito tempo atrás, na Antiga Pérsia, havia uma velhinha chamada Naneh Sarma. Ela tinha cabelos brancos como a neve, as costas arqueadas pela idade e sua face enrugada demonstrava sabedoria. Ela vivia solitária em uma casinha no topo da Montanha Alborz. Ela teve apenas um filho, o Nowruz, que era um jovem alto e belo. Ele era gentil e amável com todas as criaturas e por onde caminhava trazia a vida, clima agradável, saúde e boa sorte com ele. Os antigos persas o amavam e celebravam a sua vinda a cada ano.
Naneh Sarma passava a vida observando as pessoas que viviam no vale lá embaixo. Ela amava o inverno e a neve. Cada ano, no final do verão quando o dia e a noite têm a mesma duração ela aparecia na porta de sua casa e chamava o ar frio para perto dela. A cada dia que passava, ela ia observando como os dias ficavam mais curtos e as noites mais longas. Quando o ar frio chegava ela o mandava para o vale com um balançar de seus braços. Cantava suas doces canções que embalavam as árvores em um sono profundo. Os animais iam para seus abrigos e as pessoas saíam para buscar lenha. 
Às vezes Naneh Sarma fazia fios de linha com as nuvens acima de sua casa. As cores dos fios variavam de um dia pro outro refletindo a luz do sol que atravessavam eles. Pensando em seu filho Nowruz, que prometeu que viria visitá-la em poucos meses, ela passou um longo tempo tecendo uma toalha de mesa. Bordou a toalha com lindos pássaros e flores coloridas porque  sabia que  Nowruz os adorava.
Ocasionalmente, Naneh Sarma ficava cansada de tecer e se levantava por alguns minutos para esticar as pernas e caminhava vagarosamente até em frente à sua porta. Com um olhar suplicante ela chamava o ar frio, tomava fôlego e soprva o ar para baixo, onde começava uma tempestade de neve. Naneh Sarma adorava ver o vale coberto por uma camada de neve branca. Ela adorava ver os flocos de neve na ponta do nariz das criancinhas. Os adultos caminhavam apressados enquanto as crianças brincavam e faziam bonecos de neve.
Na 40ª noite do inverno, ela via as pessoas do vale indo se encontrar na casa de um ancião. Elas faziam fogueiras, contavam histórias e recitavam poemas; também comiam frutas especiais como melancias e romãs. Esta era uma celebração especial, porque a partir daquele dia os dias ficariam mais longos e as noites mais curtas (veja o post  Yalda, a noite mais longa do Ano).
Naneh Sarma, ilustração de Mehrdokht Amini
Os longos dias faziam a anciã se sentir mais cansada, mas uma coisa a deixava feliz: a chegada de seu filho estava se aproximando. Ela começou a limpar a casa, varrendo e lavando os tapetes com água e sabão. Enquanto lá no vale havia uma camada de neve bem úmida mas fofa. Enquanto ela espanava seus móveis havia muito vento no vale. Uma vez, enquanto estava fazendo a faxina, quebrou-se acidentalmente seu colar e as pérolas rolaram para todos os cantos de sua casa. E lá no vale choveu granizos.
Neste momento, a anciã pensava somente em seu Nowruz, embora a limpeza da casa a tivesse deixado exausta. Ela plantou sete cereais em uma bandeja para que as pessoas pudessem ver qual cresceria mais fartamente naquele ano: trigo, lentilha, aveia, aveia branca, feijões, cevada e arroz. Quando as sementes germinaram, Naneh Sarma amarrou uma fita vermelha ao redor da planta e a colocou sobre a toalha de mesa especial que ela tinha acabado de bordar. Ela continuou a decorar a mesa com maçãs vermelhas, ovos pintados, velas, vinho, leite, senjed, um espelho, doces, moedas e um pote de água com um peixinho dourado. A cada item colocado  na mesa, ela fazia um pedido por saúde, amor e  felicidade para seu filho e para todas as pessoas do vale (veja o post sobre o simbolismo da Haft-Sin).
Na véspera da última quarta-feira do ano, a velhinha assistia as pessoas do vale fazendo fogueiras e dançando alegremente ao redor delas. Essa era a forma com que eles chamavam pelos espíritos de seus ancestrais para que estes os visitassem e abençoassem suas casas e familiares (veja post sobre a Chaharshanbeh Suri).
O clima começava a ficar mais quente e Naneh Sarma tinha certeza que veria seu filho em uma semana. Ela fez roupas novas para si mesma, mas exausta, sentou em sua cadeira e pouco a pouco começou a adormecer profundamente. Por volta desse momento, Nowruz caminhava pelo vale. A cada passo ele tornava a grama verde sob seus pés. As flores desabrochavam e as árvores despertavam de seu sono. Ele finalmente chegou na casa de sua mãe e a encontrou dormindo. Naneh Sarma parecia tão cansada que ele decidiu não acordá-la. Ele  beijou suas faces, deixou para ela os presentes das terras distantes e continuou sua jornada pela Terra. 
Quando Naneh Sarma acordou, os pássaros cantavam e as flores desabrocharam. Lá fora, ao lado de sua janela, um riacho corria através dos pedregulhos. A grama verde cobria o vale e as pessoas iam de casa em casa, saudando umas as outras. As crianças caminhavam com suas roupas novas e algumas levavam cestas com ovos coloridos. A anciã sabia que tudo isso era em honra de seu filho e tentou sorrir.
Ela caminhou lentamente para o canto onde Nowruz havia deixado seus presentes. A cada presente aberto lágrimas rolavam em sua face. Enquanto isso, uma chuva suave se precipitou sobre o vale. Ela o procurou ao redor, mas sentindo-se ainda cansada, decidiu continuar descansando. Abrindo as janelas, uma brisa suave entrou em seu quarto refrescando-a e trazendo uma fragrância que lembrava seu filho. No vale ecoavam os risos das crianças e músicas tocavam nas casas. Naquele dia, tudo fazia lembrar o Nowruz e de fato aquele era um “Novo Dia” no vale.    

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