Religiões ancestrais do Irã

Você sabia que os iranianos e os indianos compartilham os mesmos antepassados?  Eles eram conhecidos como proto-indo-iranianos, povos que pertenciam à família indo-europeia e viviam como pastores semi-nômades nas estepes do sul da Rússia, a leste do Volga.  Sua sociedade era dividida em três grupos principais: os sacerdotes, os guerreiros e os pastores. Há cerca de 4000 a 3000 a.C, os proto-indo-iranianos forjaram uma tradição religiosa significativa que influenciou seus descendentes: os brâmanes da Índia e os zoroastrianos do Irã. Os dois grupos foram muito provavelmente separados por volta do 3º milênio a.C, e tornaram-se dois grupos linguísticos distintos, os hindus e os iranianos.
Antes do advento da religião zoroastriana os antigos iranianos pré-históricos já cultuavam elementos da natureza como a água e o fogo. Muitos elementos destes cultos antigos sobreviveram na literatura religiosa Zoroastriana e Hindu. Elementos como água e fogo foram personificados como divindades. A divindade que simbolizava a água chamava-se Apas (origem da moderna palavra persa ab, “água”) e a divindade que simbolizava o fogo, era  chamado de Atar (origem da palavra atash,” fogo”).

Além desses, os proto-indo-iranianos adoravam outros “deuses da natureza”, como Asman, o “senhor do céu” (aseman: “céu”, em persa moderno), Zam, a deusa da terra ( zamin: “terra”, em persa moderno) e  os deuses do sol e da lua, Hvar e Mah ( khorshid e mah, em persa moderno). Havia também os dois deuses do vento, Vata e Vayu, respectivamente “o vento que sopra e o vento que trazia as nuvens de chuva”. 
Mais tarde, outras divindades passaram a ser relacionadas com o fogo e a água. Varuna era o “filho das águas”, que mais tarde evoluiu para Varuna Apam Napat, o yazata  do juramento e da verdade. E Mitra era o “senhor do fogo e da aliança” o qual era acreditado acompanhar o próprio sol. O governante local ou o mais velho da comunidade, ou aquele que tomava todas as decisões, parece ter sido a origem do conceito de Ahura Mazda, o “Senhor da sabedoria”, o maior de todos os senhores. Esses três senhores eram seres altamente éticos, que defendiam  asha, o princípio de “justiça, ordem e verdade”; o seu oposto é o droga, que representa a “falsidade e o caos”.

Havia também  uma série de deuses que personificam conceitos abstratos, por exemplo, Mitra também era adorado como o “deus da guerra”, que  lutava em nome do bem e da virtude. Ele é personificado tanto como um grande juiz que avalia as ações dos homens após a sua morte e representado ou como uma divindade solar acompanhado por cavalos brancos, sem lançar  nenhuma sombra. Esta última característica sobreviveu na literatura islâmica onde grandes homens religiosos são representados sem nenhuma sombra. Por sua vez, Airyaman era a divindade que personificava a amizade; Arshtat, a Justiça; Ham-vareti, a coragem e Sraosha (Soroush) era a obediência. Verethraghna,  o deus da vitória, tornou-se uma divindade de destaque na literatura avéstica mais tarde. A maioria dos deuses indo-iranianos eram antropomórficos (tinha formas humanas), no entanto Verethraghna se assemelhava a um javali e todos esses deuses eram considerados imortais.
O primeiro mito da criação dos iranianos pertence a este período: 

“Os deuses criaram o mundo em sete etapas. Primeiro eles fizeram o céu de pedra, sólida como um enorme escudo redondo Na metade inferior desta concha colocaram a água. Em seguida, eles criaram a terra, descansando sobre a água como um grande prato…; e depois o centro da terra que formou as três criações animadas na forma de uma única planta, um animal  (touro) e um único homem (Gayo-maretan, “criatura mortal”). Em sétimo lugar, eles criaram o fogo, tanto o visível, quanto aquele como uma força vital. O sol, que faz parte da criação do fogo, ficava sempre no alto, como se fosse sempre  meio-dia. Todo o mundo estava imóvel e imutável e, em seguida, os deuses ofereceram um sacrifício triplo. Eles esmagaram a planta, e depois mataram o touro e o homem. Deste sacrifício vieram mais plantas, animais e seres humanos. O ciclo da vida foi posto em movimento e a morte foi seguida por uma nova vida. O sol começou a se mover e todo o céu para regular as estações do ano, de acordo com asha (na literatura zoroastriana este dia é chamado o primeiro Nowruz).

Mesmo antes do advento do islamismo, os iranianos antigos observavam o ritual de orar três vezes por dia (ao nascer do sol, ao meio-dia e ao pôr do sol), e as horas do dia foram divididas em dois períodos. A manhã estava sob a proteção de Mitra, enquanto Apam Napat protegia a tarde. Os Fravashis (fereshteh: “anjo” em persa moderno) e os espíritos dos mortos protegiam a noite. Vários desses conceitos permaneceram e foram adotados pelos zoroastrianos. Muitos ainda estão presentes na literatura zoroastriana moderna (e até mesmo na islâmica)  apesar das muitas alterações que vieram com a nova cosmologia introduzida por Zoroastro.

(Baseado em artigo de Massoume Price do site Culture of Iran)

Este post tem 0 comentários

  1. IC Xavier

    Olá Janaína, como está?
    Adorei esse texto, estudo as antigas sociedades indo-europeias. O número 3 era muito importante para os indo-europeus, assim como o sacrifício primordial, em todas as mitologias dos mesmos. E muitos Deuses tem características muito similares aos dos povos que migraram para o Oeste, por exemplo, além dos próprios hindus.
    Abraços.

  2. Janaina Elias

    Olá Iara! Fico muito feliz com sua participação aqui e com esse comentário interessantíssimo! Acredito ser essencial conhecer as civilizações antigas dos iranianos, para entendermos as particularidades das crenças contemporâneas desse povo. Seja bem-vinda para compartilhar o seu conhecimento dessas civilizações conosco!
    Grande abraço!

  3. Unknown

    Olaa, adorei o seu blog estou fazendo um trabalho sobre o ira e gostaria de saber se a senhora poderia me ajudar

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