Do sorvete ao fast-food: a troca culinária entre Pérsia e Ocidente

Mapa da antiga Rota da Seda
Qualquer resumo das atualidades sobre o Irã sempre vai nos fazer deparar com “fatos históricos”: do histórico acordo nuclear à histórica visita do presidente iraniano à Europa. Mas é a histórica retirada das sanções econômicas que vai permitir ao Irã retornar a um cenário no qual seu povo foi excelência por séculos: o comércio.
Devido à posição estratégica do Irã na Rota da Seda, o antigo trajeto das caravanas de mercadores que ia da China a Europa, exportando chá, especiarias e seda, também serviu como a rota para exportação da própria cultura persa. A maior evidência deste legado da cultura persa que se espalhou pelo mundo está nas nomenclaturas de muitos alimentos que conhecemos. Não somente aqueles alimentos que já sabemos ter uma origem oriental como saffron (açafrão), chai,  nan, samosa e kebab, mas também aqueles que conhecemos por nomes ocidentais como limão, tamarindo, pistache e jujuba, todos têm nomes de origem persa. 
Segundo a escritora  especialista em culinária persa Najmieh Batmanglij “o Irã foi o primeiro local no mundo a usar muitas das ervas mais comuns, como  manjericão e coentro, e a incluir molhos doces e azedos na culinária. É sabido também que marmelos, romãs, amêndoas, feno-grego, cominho e mostarda vieram do Irã para o Ocidente.”  
Entre muitos outros exemplos que podemos citar estão: a palavra inglesa para “doce”, candy que é derivada do persa qand, cujo significado é “cubo de açúcar” e o famoso espinafre, que deriva do persa aspanakh. A culinária persa nem é tão comum aqui no Brasil, mas todos nós já ouvimos falar da “água de rosas” (em persa gul-âb ) tão comum na culinária sírio-libanesa. 
Cubos de açúcar, sorvete e água-de-rosas: doçuras de origem persa
Ao que tudo indica, a palavra “sorvete” também vem do persa sharbat , que significa bebida, (mais provavelmente do verbo árabe shariba = “beber”). A palavra que se usa para sorvete no moderno persa é bastani, todavia sua invenção é creditada aos antigos persas, que aprenderam a preservar o gelo e a neve durante os meses quentes do verão em espetaculares estruturas denominadas “depósitos de gelo” construídas na periferia das cidades e ao longo das rotas das caravanas. Esse gelo era misturado com xarope de frutas, mel, ou calda de açúcar, tâmaras ou uvas, dando origem a um delicioso e refrescante sorvete.
Até mesmo alguns alimentos que não são originários da Pérsia, tem nomes persas, devido ao fato de terem sido levados ao ocidente pelos mercadores persas. “Laranja”, por exemplo vem do persa nārang, que por sua vez vem do sânscrito. “Berinjela’, também também tem origem no sânscrito, mas seu nome vem do persa bādinjān.
Esta encruzilhada de culturas, sem dúvida é uma via de mão-dupla, assim como o Irã exportou seus produtos, também absorveu os de outros países. Um exemplo disso são frutas e vegetais que foram importados pelo Irã há muitos séculos, mas que hoje em dia ainda recebem o rótulo de farangi (“estrangeiro”), como o tomate que ainda é chamado de gojeh farangi (cuja tradução literal seria “ameixa-estrangeira”); o morango é chamado de tut farangi (lit. “amora-estrangeira”), e as ervilhas verdes são chamadas de nukhud farangi (lit.”ervilha estrangeira).”
No entanto muitas comidas modernas importadas pelo Irã, são simplesmente conhecidas por seus nomes originais, apesar da insistente persianização. Assim as “costeletas” de carne são conhecidas como kotlet e o macarrão é conhecido como  mākāruni.
Apesar de décadas de inimizade entre EUA e Irã, as cadeias de fast-food são enormemente populares nas cidades iranianas. Se você está sem ideia do que pedir, peça por  um sandivich (sanduíche), por uma pitzah (pizza), ou por um hamberegare (hambúrguer). 
Mash Donald’s, uma cadeia de fast-food muito popular no Irã 

Algumas curiosidades sobre fast-foods no Irã:

– Em 1973, o Coronel Sanders e sua esposa vieram ao Irã para abrir a primeira franquia da KFC (Kentucky Fried Chicken). Após a Revolução Islâmica em 1979, a franquia foi fechada, mas reabriu em seguida com o nome de Kabooki Fried Chicken
– Você também pode encontrar o Mash Donald’s e a Pizza Hat: cuja troca de nomes é o legado dos tempos amargos de embargo econômico entre EUA e Irã, mas que também são um testemunho irônico de que o gosto pela comida rápida não tem fronteiras.

Adaptado de artigo de Nina Martyris para o site  NPR

Este post tem 4 comentários

  1. Karla Mendes

    Ahhh nem Azizam Janaína! Por isso que você falou que eu iria gostar do post de hoje… rsrsrs como não né?!? Culinária e comércio! É claro que adorei! Amiga eu leria um livro sobre esses temas se você o escrevesse! Está aí um pedido meu!! 😉 No aguardo!! Rsrsrs Kheili mamnoon doste khobam! Boooos!

  2. Janaina Elias

    Viu, Karla jan? Eu como eu conheço meus leitores rsrs … Um dia ainda terei competência para escrever um livro sobre o Irã. Talvez seja bacana você procurar os da autora citada, Najmieh Batmanglij, ela escreveu 5 livros sobre culinária persa em inglês…
    Boos boos!

  3. Karla Mendes

    Conhece mesmo! Rsrsrsrs Você já tem… 😉 e obrigada pela dica! Será bom para eu treinar meu inglês! Bos! :*

  4. Marcia

    Parabéns pelo belo blog.
    Conheci hoje. Era tudo que estava precisando para obter mais informações sobre o Irã, já que pretendo conhecer o país no próximo mês de outubro.
    E foi muito bom saber de sua viagem para lá sozinha. Eu irei com uma prima, mas ainda em dúvida se por agência de turismo ou por conta própria, que é o que prefiro. Mas diante do desconhecimento, agora não mais, estou confiante em que poderemos ir sem medo. Obrigada, abraço

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