A história de amor de 1500 anos entre um príncipe da Pérsia e uma princesa da Coréia

Esta pintura persa do século XIV retrata uma cena do Kushnameh  que os estudiosos acreditam  ser o noivado do príncipe  persa Abtin com a princesa Frarang de Silla. (Museu da Universidade de Hanyang)
Você sabia que há mais de mil anos antes do primeiro explorador europeu chegar às costas coreanas, os persas já escreviam histórias de amor ambientadas nestas terras remotas do Oriente? No post de hoje vamos conhecer um épico persa de 1500 que revela o que pode ter sido o primeiro romance intercultural entre Irã e Coréia.
Recentemente, historiadores revisaram um épico persa escrito por volta de 500 d.C. e descobriram  que este continha a incomum história de amor entre um príncipe persa e uma princesa coreana.
E isto foi uma grande surpresa! Sabe por que?  Até recentemente, não se sabia se os persas daquela época tinham conhecimento sobre a existência da Coréia. Este novo achado revela que a Pérsia não apenas mantinha contato com a Coréia, mas esses dois países estavam intimamente conectados. E isso pode exigir uma reescrita total da história.
A obra conhecida como  Kushnameh é um imenso poema épico escrito por Ḥakim Irānshāh b. Abu’l-Khayr  entre os anos 501-04 / 1108-11, que narra a história de uma criatura maligna com presas de elefante chamada Kus, (sobrinho do terrível Zahhak) que aterroriza uma família ao longo das gerações. A história se estende por centenas de anos e milhares de linhas de poesia, mas a parte mais interessante está em algum lugar lá no meio, onde o autor criou incríveis 1.000 versos poéticos descrevendo a vida na Coréia durante a Dinastia Silla.
É nesta parte que entra em cena um jovem príncipe persa chamado Abtin. Por toda a sua vida, Abtin foi forçado a viver na floresta, escondendo-se do maligno Kus. Para protegê-lo, ele tem apenas uma arma, um livro mágico que prediz seu futuro.
E o livro de Abtin, não é nada menos do que uma cópia do livro do qual estamos falando neste momento, o próprio Kushnameh! Ao folhear algumas páginas para ver seu destino final, ele lê o próximo capítulo e descobre que deveria ir para o reino de Silla na Coréia, e  depois de ficar confuso e ir parar na China, acaba sendo recebido de braços abertos pelo rei de Silla.
A partir daqui, a história é apenas uma página após muitas páginas de descrições generosas de como a Coréia é linda. É verdade que algumas passagens parecem um pouco exageradas. Por exemplo, na que conta que a Coréia está tão repleta de ouro que até os cachorros são mantidos em coleiras douradas. Mas, no geral, a descrição é tão precisa que os historiadores modernos têm certeza de que o autor deve tê-la visitado pessoalmente.
Abtin é hipnotizado pela beleza do país e, logo depois, pela beleza da princesa Frarang. Loucamente apaixonado pela princesa coreana, ele implora ao rei por sua mão, e ela logo torna-se sua esposa e mãe de seu primogênito.
O casamento do príncipe Abtin e da princesa Frarang (Imagem: Daum )
É improvável que essa história tenha realmente acontecido. Em primeiro lugar porque não há evidências de que a Pérsia passou 1.500 anos sendo aterrorizada por um monstro imortal com presas de elefante, e ainda menos que os primeiros príncipes persas tinham livros de magia que poderiam predizer-lhes o futuro. Mas a riqueza do simbolismo da paixão de um príncipe persa por uma princesa coreana é inegável. Esta é uma prova rara de que os persas não apenas conheciam  a Coreia há 1.500 anos, mas  tinham uma profunda admiração por essa nação.
Durante 1.500 anos, as pessoas leram esta história acreditando que ela se passava na China. Na história, o reino coreano de Silla é referido como “Chin”, um nome que pode se referir à China ou à Coréia. E é um fato curioso que a princípio, o próprio personagem Abtin, como a maioria dos historiadores, interpreta erroneamente o “jin” em seu livro mágico e acha que deveria ir para a China. 
Recentemente, porém, os historiadores deram uma nova olhada sobre as descrições dos locais e perceberam o quão perfeitamente elas realmente se equiparam à Coréia. As descrições neste livro não se parecem em nada com a China, mas são uma descrição perfeita e vívida da Coreia do século VI, um lugar onde, acredite ou não, eles realmente mantinham seus cães em coleiras de ouro puro!
Demorou até 1653 para que o primeiro explorador europeu chegasse à Coréia, isto é, mais de 1100 anos depois que o  Kushnameh foi escrito.
Rei e Rainha de Silla. Coreia do Sul, Museu Nacional do Folclore de Seul
– Trajes Tradicionais Coreanos do Reino de Silla (57 a.C – 935 d.C) 
Na verdade, a Pérsia sempre teve algum tipo de contato com a Coréia, pois ambos  faziam parte da Rota da Seda, e desse modo os produtos persas de alguma forma sempre foram parar na Coréia. Porém, o que nos chama atenção nesta história, é que a Coréia não é um mero parceiro comercial, mas sim uma aliada de confiança tão importante para os persas que estes literalmente não conseguem superar o mal até confiarem na liderança de um príncipe meio coreano e meio persa. É um casamento incrivelmente simbólico de culturas.
O épico também coloca outras relíquias sob uma nova luz. Em um túmulo antigo em Gyeong-Ju, por exemplo, há um antigo monumento a um herói de guerra da Coréia que se parece muito mais com um soldado persa do que um coreano. Agora, algumas pessoas estão começando a se perguntar se isso pode realmente ser o monumento a um herói persa esquecido que lutou pela Coréia.
Não há como saber até que ponto essas histórias são verdadeiras, mas elas podem mudar completamente o modo  como vemos a história desses dois países. Afinal, o conto do príncipe Abtin e da princesa Frarang é muito mais do que uma história de amor entre duas pessoas, é uma história de amor entre duas nações!

Adaptado do artigo de Mark Oliver para o site Ancient Origins 

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