Shams de Tabriz: “O Sol que fez Rumi brilhar”

Retrato de Shams  Tabrizi (autor desconhecido)
Shams Tabrizi, cujo nome de nascimento era Shams al-Din Mohammad (1185-1248) foi um poeta e místico persa creditado como o instrutor espiritual de Rumi. A tradição diz que Shams ensinou Rumi em Konya por um período de 40 dias em reclusão, antes de fugir para Damasco.
A filiação de Shams ainda é incerta. De acordo com Salar Sipah, um devoto e amigo íntimo de Rumi que passou 40 anos com ele, Shams era  filho de Ala Imam al-Din . E em um trabalho intitulado Manaqib al-‘Arifin (Elegias dos Gnósticos), Aflaki nomeia um certo “Ali como o pai de Shams-i Tabrizi e seu avô como Malikdad”. 
Shams foi educado em Tabriz  como discípulo de Baba Kamal al-Din Jumdi. Antes de conhecer Rumi, ele viajava de cidade em cidade onde vendia seus trabalhos de tecelagem para viver. Shams às vezes visitava os seminários e madrasas, no entanto, sem revelar sua identidade. Ele não gostava dos místicos, nem dos  estudiosos da religião, mas preferia estar com os comerciantes. Um homem austero que comia muito pouco como se dissesse não à fome do corpo, procurando em primeiro lugar alimentar seu espírito. Um famoso episódio narra o encontro de Shams com seu futuro discípulo:

O encontro de Jalalludin Rumi
e Shams Tabrizi em Konya

No ano de 1244, um homem todo vestido de preto apareceu na famosa pousada dos comerciantes de açúcar na cidade de Konya. Seu nome era Shams Tabrizi. Segundo o relato de Haji Bektash Veli no Maqalat, ele afirmava ser um comerciante que estava viajando a procura de algo em Konya. 

Um dia, Rumi estava lendo ao lado de uma grande pilha de livros. Shams de Tabriz, de passagem, lhe perguntou: “O que você está fazendo?” Rumi respondeu: “Algo que você não pode entender.” Ao ouvir isso, Shams jogou a pilha de livros nas águas de uma piscina próxima. Rumi apressadamente resgatou os livros e para a sua surpresa, eles estavam todos secos. Rumi, então, indagou a Shams, “O que é isso?” Ao que Shams respondeu: “Mawlana, é isso que você não pode entender.”

A segunda versão do encontro conta que Shams era capaz até mesmo de realizar proezas consideradas “sobrenaturais”:
Rumi achava que Shams era um estranho sem educação enquanto lia seus livros. Quando  Rumi responde a ele: “Algo que você não entende!” naquele momento, os livros começam a pegar fogo e Rumi pede a Shams para explicar o que aconteceu. Sua resposta foi: “Algo que você não entende”. 

Depois de vários anos com Rumi em Konya, Shams estabeleceu-se em Khoy. Conforme os anos se passaram, Rumi atribuía mais e mais de sua própria poesia a Shams como um sinal de amor por seu amigo e mestre. Na poesia de Rumi, Shams torna-se um símbolo do amor de  Deus pela humanidade. Shams significa “sol” em persa, e foi “aquele que fez brilhar a Luz de Deus em Rumi”.

Segundo a tradição Sufi, Shams Tabrizi desapareceu misteriosamente. Alguns dizem que ele foi morto por discípulos enciumados de Rumi. Outros dizem que Shams deixou  Konya e morreu em Khoy, onde foi enterrado. Sultan Walad, filho de Rumi, em seu Walad-Nama Mathnawi apenas menciona que Shams desapareceu misteriosamente de Konya sem detalhes mais específicos.
O túmulo de Shams de Tabriz  em Khoy, no Irã,  foi recentemente nomeado como  Patrimônio Mundial da UNESCO.

Túmulo de Shams Tabrizi em Khoy, patrimônio da UNESCO

Pensamentos de Shams:

Ao que tudo indica o Maqalat-e Shams-e Tabrizi ( Discursos de Shams de Tabriz ) foi escrito durante os últimos anos de Shams, pois neste livro ele fala de si mesmo como um homem velho. Esta obra contém uma interpretação mística do Islã e conselhos espirituais. Alguns trechos do Maqalat fornecem informações sobre os pensamentos de Shams:

“Bênção é excesso, por assim dizer, um excesso de tudo. Não se contente em ser um faqih (erudito religioso), diga eu quero mais – mais do que ser um sufi (místico), mais do que ser um místico – mais do que tudo que está diante de você.”

“Um bom homem não se queixa de ninguém, ele não olha para as falhas.”

“A alegria é como a água clara e pura; aonde ela flui, flores maravilhosas crescem … A tristeza é como um rio poluído, aonde ela flui murcham as flores.”

Uma matriz de poesia mística,  tem sido atribuída a Shams-i Tabrizi em todo o mundo islâmico persa. Alguns estudiosos questionam se estes foram realmente de sua autoria e sugerem que essa identificação é o pseudônimo de Rumi. A valiosa  poesia  mística de Shams de Tabriz, está preservada na coletânea Divan Shams -i-Tabrizi creditada a Rumi. A tradição sufi assimila que Rumi teria  havia se tornado tão unido a Shams que se tornara como uma extensão de seu mestre, ou seu alter-ego. 

Baseado em ShamsiTabrizi.net e Wikipedia

Este post tem 0 comentários

  1. Anônimo

    Salam, Jana Jan!

    Eu estive por aqui e comentei, mas a conexão caiu e voltei somente agora.
    Já imaginou a banda larga caindo igual aquela época dos telefones linkados à internet? Um absurdo!
    A conexão aí em São Paulo é melhor?

    Bem, sobre Shams e Rumi, há alguns autores que suspeitam até de um relacionamento homossexual entre os dois. Mas, suspeitas à parte, o principal é a obra que ficou para a humanidade.
    Um beijo e ótimo final de semana!
    bjs

  2. Janaina Elias

    Salam Denise jan, minha querida poetisa!
    Quando faço algum post sobre poesia sempre lembro de vc e já estava mesmo aguardando seu comentário!
    Problemas com conexão tem em todo lugar, o problema é que pagamos um absurdo pelo serviço de banda larga, né?
    Quanto a especulação se os dois poetas tinham um relacionamento homossexual ou não, já ouvi sobre isso, mas acho isso uma questão tão irrelevante diante do legado cultural e espiritual que os dois deixaram para a humanidade. Sem dúvida foram seres humanos excepcionais!
    Um super beijo e jomeh mobarek!

  3. Janaina Elias

    Muito obrigada Nastenka! Seja sempre bem-vinda! Continuarei postando mais sobre os poetas persas.

  4. João Marcos

    Lamentavelmente não permite copiar e expandir as belas palavras do Rumi.

Deixe um comentário