Breve história do Nowruz (Ano Novo Iraniano)

Salam amigos! Este é o ano de 1402 no calendário persa, e o blog Chá-de-Lima da Pérsia há 11 comemora a chegada  do Nowruz, o Ano Novo Persa! A virada do ano novo no Irã caiu em 20 de março, mas a comemoração dura 13 dias, encerrando com o Sizdah Bedar.
A tradição do Nowruz remonta ao período Aquemênida (c.500 a.C.) e aparece como a celebração da chegada da primavera, quando o sol volta a surgir com força e a natureza se renova. É o mais sagrado festival da herança cultural zoroastriana e a mais importante data nacional para todos os iranianos.
Os zoroastrianos acreditavam na existência de um espírito da luz que retornava nessa época do ano e vencia as trevas do inverno. Eles também acreditavam na vitória do bem sobre o mal.
No principio Ahura Mazda criou um mundo perfeito que era perturbado pelo espírito malvado de Ahriman. O tempo dos conflitos humanos é agora, mas será sucedido por um tempo eterno, quando o mundo será restaurado à perfeição. 
Entretanto, o tradicional festival da primavera também representa uma “Nova Era”, recordando o tempo que finalmente trará eternas bençãos, acabando com todos os conflitos e culminando com a vitória do Bem sobre o Mal.
A data que inicia e o número de dias em que é celebrado era relacionado ao calendário de 365 dias  que os persas adotaram que era similar ao calendário egípcio, após a conquista de Cambises no Egito (525 a.C). 
Depois de uma reforma do calendário por Xerxes (486-465 a.C), os persas continuaram a usar seu calendário original de 360 dias e observavam corretamente suas festas associadas as seis criações que eram representadas pelos seis Amesha Spenta (divindades imortais). 
Essas seis criações com a festa dedicada a Ahura Mazda formavam um ciclo de sete festas, ou sete criações: céu, água, terra, plantas, animais, humanos e fogo/ sol. As dividades que protegiam cada uma das seis criações e Ahura Mazda, protetor do fogo/sol. Os símbolos das sete criações e seus protetores ainda podem ser vistos na mesa do Haft-Sin.

Os sexto festival, celebrando a humanidade era um dos mais importantes e incluía a maior festa a Hamaspatmaedaya, que era relacionada a noite dos Fravashis, que precedia o Nowruz. Esta era uma celebração onde as almas dos ancestrais mortos eram recordadas. 
A tradição de visitar túmulos de parentes mortos antes do Nowruz entre muitos iranianos hoje em dia, é uma continuação desta herança ancestral. Nesta noite tochas eram acesas para indicar aos mortos que os vivos estavam prontos para recebê-los de volta. 
Gradualmente este se tornou um festival de 10 dias antes do Nowruz, conhecido como Suri, que foi completado com fogueiras, orações, festas, música e personagens descritos por Abu Rayhan Biruni como Piruz, o Guardião e protetor dos espíritos. Acredita-se que o personagem Haji Firuz e sua face negra indica sua conexão com o mundo dos mortos.
A presença de dois conjuntos de calendários, acabou duplicando muitos festivais, incluindo o Nowruz que era celebrado duas vezes, um como o Nowruz religioso e outro em seu tempo de celebração baseado no calendário de 360 dias. 
O Nowruz principal permaneceu e era celebrado no primeiro dia do mês de Farvardin por seis dias. O sexto dia de Farvardin também acreditava-se ser o nascimento de Zoroastro, e este dia era a mais importante das celebrações. 
Os Aquemênidas celebravam o ano novo com grandeza em Persépolis. Os reis recebiam embaixadores e presentes de todas as nações sob seu domínio. Algumas relevos que representam estas celebrações ainda podem ser vistos em Persépolis.
O Nowruz continuou durante a dinastia dos Partas, onde foi descrito pela primeira vez no épico romântico Vis e Ramin que era originalmente datado dessa época, embora tenha sido composto no séc. XI por Fahkr Al-din Asad Gorgani. 
Ele descreve o banquete real, sob árvores floridas, regado a muito vinho ao som do canto dos pássaros e menestréis. As pessoas comuns também celebravam fora de casa, nos campos e jardins, com vinho e música, alguns montavam seus cavalos, outros dançavam ou colhiam flores, e nos dias que seguiam o Rei saía do palácio e distribuía presentes.
Também há muitas referências ao Nowruz nos tempos Sassânidas, descritas por exemplo no livro Bundahshn (Fundação da Criação) que descreve o mito da criação. 
O Nowruz é descrito como um dia em que o ciclo da vida começou e de acordo com este texto, quando Ahura Mazda criou a primeira das sete criações e seus protetores, os Amesha Spenta, seu mundo perfeito somente existia na forma espiritual e não material. Ahura Mazda criou o mundo material para aumentar seu poder e combater as forças do mal (Ahriman). Este dia da criação, quando a vida na terra começou também era chamado de Nowruz.
Em outro texto Zoroastriano, o Zadspram, são mencionadas outras características do Nowruz e seu senso de renovação como usar roupas novas e comer frutos da estação. O dia começa com um copo de leite puro e fresco e queijo fresco. Era um costume semear sete sementes, poucos dias antes, e deixá-las germinar até o dia sagrado. 
As celebrações dos tempos Sassânidas, começavam 10 dias antes do Ano Novo, quando a faxina da primavera era feita e o Festival de Suri celebrava os ancestrais mortos com fogueiras e músicas. O festival inteiro durava 21 dias.
A mais detalhada descrição do Nowruz na era Islâmica é feita por Abu Rayhan Biruni que também descreve sobre o calendário Zoroastriano em detalhes. Ele menciona algumas lendas associadas com o Rei Jamshid, um lendário personagem do Shahnameh. Ele também descreve que as pessoas se presenteavam com doces, comiam e bebiam, tocando instrumentos musicais e trocando presentes. Biruni também fala do costume de plantar sete tipos de sementes ao redor de uma bandeja.
Atualmente maioria dos iranianos celebra o Nowruz por 13 dias. Começam pela faxina anual das casas (Khaneh Tekani) e comprando roupas novas. Na última quarta-feira do ano chamada de Chaharshanbeh Suri  saltam sobre as fogueiras enquanto recitam versos desejando que seus problemas sejam resolvidos e que o fogo traga brilho para suas vidas. 
Estes rituais de purificação são características muito populares das celebrações de Nowruz. O Haji Firuz, com seu traje vermelho e face pintada de negro aparece alguns dias antes da festa cantando e dançando pelas ruas de todo o país. As famílias se reunem em volta da mesa do Haft-Sin (os 7 “S”), embora hoje em dia muitos utilizem mais de sete itens que nem sempre começam pela letra S. 
As celebrações começam no exato momento do equinócio de primavera, por isso que a data varia a cada ano. Depois que o Ano Novo é anunciado no rádio e na TV, as pessoas saem para visitar seus parentes e amigos levando presentes.
No 13º dia do Nowruz, há o encerramento das festividades quando todos os iranianos saem de suas casas para comemorar com um piquenique, brincadeiras e música nos parques. Este dia no calendário Zoroastriano corresponde à divindade Tishtrya (Tir) o protetor da chuva que recebia ofertas de plantas e flores atiradas às águas dos rios. Por isso há o costume de jogar o sabzi (broto de trigo) do Haft-Sin, nos rios como um remanescente do antigo  ritual de veneração a Tishtrya. 
Nos dia atuais, o Nowruz é considerado a celebração da vida e por isso também é festejado por iranianos muçulmanos e de outras religiões.
(Baseado em artigo de Massoume Price para o site Payvand Iran News )


!!! سال نو مبارک
Feliz Nowruz 1402! Sale no Mobarak à todos os amigos da Pérsia!

Este post tem 3 comentários

  1. Cristina Pavani

    Oi, Janinha irãfanista!
    Receba meus parabéns pelo triênio do blog; e um nowruz vitorioso!

    Até mais.

  2. Janaina Elias

    Olá Cris! Muito obrigada! Três é um número lindo! E que esta vitória seja compartilhada com todos os irãfanistas que me incentivam a continuar sempre!
    Bjos!

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